Os três romances mais importantes da humanidade

     Há poucos dias atrás li um comentário, feito por uma autoridade no mundo das letras, que o romance é um gênero literário em decadência.

O romance não é um gênero literário em decadência. Alguns fatores contribuíram para a diminuição da sua aceitabilidade.

Na atualidade os meio de comunicação de massa oferecem produtos parcialmente digeridos, de fácil consumo e que concorrem de maneira desigual com as obras de arte. Vivemos em uma época da globalização das informações e do conhecimento. Nos dias de hoje as ofertas são grandes e os consumidores consomem produtos por impulsos, pela moda e pelas embalagens. Dentro desse modelo o espaço para o romance tradicional está cada vez menor.

         O romance é o gênero literário, em prosa, de contar estórias e histórias. As estórias e histórias são necessidades básicas e elementares da alma humana. Todo processo cultural e de desenvolvimento do ser humano é calcado em histórias e estórias. A grande maioria dos romances são estórias que imitam as histórias verdadeiras.

         As pessoas comuns sonham em serem heróis. Com uma diferença: os heróis enfrentam uma terrível batalha para tornar-se um herói. Deseja-se o laurel de herói sem enfrentar as batalhas. Quando uma pessoa lê um bom romance ela se identifica, se comove, ela aprende com os feitos do herói. Um romance sem herói é uma estória sem graça.

         Joseph Campbell em o HERÓI DE MIL FACES traçou, de maneira surpreendente, o perfil do herói. Os heróis possuem os mesmos arquétipos. Os heróis partem para o mundo, se aventuram por lugares distantes, enfrentam inimigos, provações e voltam diferentes. O herói transcende a existência ordinária humana.

         A humanidade possui três grandes Romances, com os três maiores heróis de todos os tempos. Coloco-os, de maneira didática, na cronologia do tempo e não na cronologia da alma. Esses romances são contados e lidos há mais dois mil anos e continuaram contados e lidos por muitos milênios.

         O primeiro, na ordem cronológica, é a estória do mito Prometeu. Aquele que roubou o fogo dos Deuses e deu ao homem. O homem de posse do fogo se tornou diferente dos animais. Como castigo, Zeus o acorrentou no alto de um penhasco e um abutre todos os dias comia um pedaço do seu fígado que regenerava e voltava a ser comido. Essa é uma jornada inversa, o herói primeiro transcende para depois enfrentar a batalha.

         O segundo, a história de Buda. O príncipe que renunciou as mordomias da vida real para se tornar um asceta. Ele sofreu privações, provações terríveis e depois dessa longa batalha chegou à plenitude da alma: a iluminação. Mostrou para a humanidade que a plenitude da alma é possível.

         O terceiro, a história de Jesus Cristo, bem, essa dispensa comentário. Mas, o mais importante na história é que Jesus, devido a sua nova proposta, sofreu, foi condenado, morto e crucificado para redimir a humanidade e, finalmente, venceu a morte. A ressurreição é o maior de todos os atos de transcendência.

         Esses três mais importantes Romances da humanidade são lidos e contados da mesma forma há mais de dois mil anos. Eles tocam profundamente a alma de milhões de pessoas.

         Existem milhares de outras estórias ou histórias, populares ou eruditas, contadas ou escritas que tocam a alma de milhões de pessoas.

         Hoje, vivemos uma época de segregação cultural. Poucos eruditos enclausurados nas altas torres observam tudo, mas, não conseguem tocar um grande número de pessoas. Por outro lado, a grande massa aqui em baixo, apenas, vislumbra a grandeza da torre sem alcançá-la. O intelectual enclausurado no alto da torre necessita descer e a grande massa subir alguns degraus para promoverem um agradável encontro e o final da segregação cultural.

         O romance, a arte em prosa de contar estórias e histórias, precisa mudar para não acabar. Assim como Miguel de Cervantes em 1605 apresentou uma nova maneira de contar estórias, hoje precisamos reciclar. O romance é sempre uma jornada de um herói e não existe herói sem batalha. Necessitamos de romancistas que escrevam estórias fantásticas, escritas de maneira genial para tocarem a alma dos leitores famintos de estórias extraordinárias. 

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