INQUIETAÇÕES INFANTIS
Madrugada. Sonhos entrecortados por imagens labirínticas. A inconsciência brinca com a realidade e se esconde em véus difusos. Permaneço deitada em busca do reencontro com o sono quando percebo o caminhar sonolento da pequena na porta do quarto. Uma sombra perdida na noite, uma silhueta quase fantástica.
“Manhê, você também sonhou com o grande quintal e o vespeiro?”
“Não.”
“Ainda bem...”
Com as reticências, voltou para o quarto. Tentei alcançá-la, mas ela já havia dormido. Perdi os labirintos e fiquei com a atenção fixa no grande quintal. Tive dificuldade para encontrá-lo depois de tantos anos em apartamentos com estreitas janelas.
A sintonia da interrupção do sono com as interrogações. Labirintos, quintais e vespeiros... Esperei o despertador afirmar a manhã para perguntar sobre o sonho. Ela demorou a entender o que pretendia com o quintal e o vespeiro, mas quando se lembrou, riu e falou:
“Sonhei que morávamos numa casa com quintal enorme. Estava brincando e derrubei um vespeiro. Fugi dos insetos, mas fiquei com medo de você ter se machucado.”
Prendi a emoção diante de suas palavras. Eu presa em labirintos, entrecortando a noite, e ela me presenteando com os grandes quintais e a sua preocupação.
Existem significados para todos os sonhos, mas não há como mensurar a intensidade de algumas realidades.