Um sábado.

Um sábado a mais.Um sábado a menos.

Mais um sábado triste de junho.Quase um ano que minha mãe se foi

para não mais sentir as dores dessa vida.Tem hora em que a dor volta

grave,como uma busina alta,uma marretada forte,eu perco o Norte.

Lamentando as coisas que não tivemos juntas,que não vivemos...

Nada mais a ser dito,não mais.Só a certeza que se estou aqui é porque vou também.E todo dia a mais é também um dia a menos...

Assim é essa vida,cheia de dores e coisas vãs e a morte sempre à espreita nos toma as pessoas que gostaríamos eternas.Elas vivem em

nós,eu sei que sou muito minha mãe;às vezes ouço alguém para me irritar dizer que sou igual a ela.Isso não me irrita,eu sou muito dela sim.

Sou quem agora derrama lágrimas ao escrever porque eu pensava que ela sempre estaria lá,e ainda não era hora de ir vê-la...Quando soube da sua enfermidade acreditei que ela sairia bem,ficaria bem de novo,

e recebi a notícia por telefone,fria como uma pancada esmagando o

coração:"mamãe faleceu".Senti-me sem chão,acabava ali naquele dia de junho toda esperança de vê-la de novo nessa vida.Senti um nó na

garganta,tontura,náusea.Senti que morria a parte mais importante de

mim,porque sem ela eu não existiria.Aquela mulher a quem a vida não

poupou da dor e do desamor,e que do seu jeito tentou me amar e me

amou como sabia...E eu ingrata,pensava não ser amada!Quão tola fui!

Hoje sei que cada um ama do jeito que pode,do jeito que sabe,e nem sempre esse amar tem que ser à nossa maneira idealizada.Há várias formas de amar,cada ser ama como sabe,como pode,e não como achamos que tem que ser! E agora nada mais,só o silêncio e minha dor

solitária e triste.É só minha.E um dia,quem sabe eu possa dizer que também a amava,do meu jeito torto,e que meu amor não era morto,

existia em mim...Agora só o consolo de que há muito dela vivendo em cada célula minha. 50% de mim é parte da minha mãe.

E essa parte de mim que é ela, a ama e sente saudade até do que não

vivemos.Agora dorme.Sim dorme.Porque a morte é nada mais que um sono,do qual eu não posso acordar,mas Deus pode.Ele o fará,eu creio.

Um dia nos encontraremos na ressurreição,para aquele abraço que faltou,aquele pedido de perdão... Por hora dorme,mãe descansa mais um pouco das dores desse mundo mau,dessa vida vã.

Em paz por já teres acertado o preço.

Nada mais deves.

Até o dia que Deus nos permitir encontrar...

Elenite Araujo
Enviado por Elenite Araujo em 11/06/2011
Código do texto: T3027585
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