Sexta-feira; madrugada.
Sexta-feira, 11 de junho, Ouro Preto; madrugada. Estou torturando os bares com chocolate quente e crônicas do Rubem Alves.
Uma parcela de superativos diria que isso poderia vir a ser a morte, outra parcela de baladeiros denominar-me-ia mal-amada. E minha mãe diria: vai dormir minha filha!
Sempre quando chega a esperada sexta-feira, começa o tormento. Parece estar no decreto que este é o dia internacional do vamos acabar com o mundo. Eu não entendo esta mania de ordenar os dias e ter que sair nas sextas-feiras; prefiro as quintas e sábados. Às sextas, gosto do aconchego das noites solitárias, onde todos estão fazendo o oposto de mim, quando sei que as pessoas estão se divertindo em algum lugar com suas bebidas, e eu estou aqui, na escuridão comendo chocolate e lendo crônicas. Poderia agora fazer uma sopa, ao invés de chocolate, mas peço perdão ao Rubem e toda a sua relação com as sopas, pois os chocolates são parceiros fidedignos das mulheres, ainda mais quando estão quentes numa noite fria e solitária no interior de Minas Gerais.
“Noite fria é chato quando não vive junto”, disse uma saudade para mim numa noite dessa semana – achei a frase linda, e a saudade também.
Gosto de ouvir os barulhos dos carros na rua que soam longe abafados pela janela de maneira fechada, e a espera pelas pessoas que estão a chegar em casa no meio da madrugada embriagadas. Escondo-me de portas fechadas para que elas não percebam que estou ainda a ouvir os seus cochichos e algazarras. Suas tentativas falhas de fazer silêncio para não me acordar, quando tudo o que mais querem é sair gritando gargalhadas. Escondo-me para que elas não percebam que só agora posso dormir; elas estão felizes.
Há ainda os dias que já estava a dormir, e sou acordada pelo barulho do silêncio fracassado. É o despertar de ódio mais sereno que alguém já pôde sentir.
Ouro Preto nesta época faz frio e estamos prestes a chegar os dias de festas e canjicas. Hoje passei o dia sonhando com elas e eu ainda digo que não gosto. É como as rapaduras que não consigo estar na frente de uma sem experimentar para ter a certeza de que eu não consigo comê-las. Impossível vir para Minas Gerais e não se apaixonar pelas canjicas! Ainda mais ao som daquelas músicas chiadas de caixas de som no meio da praça, as barraquinhas de gostosuras mineiras, e as pessoas mais conhecidas, que nunca vi na vida, pela rua a olhar com simplicidade a felicidade da vida pacata.
Gosto de comer chocolate quente e ler Rubem Alves numa noite de sexta-feira, do cheiro... do silêncio ... do quarto que
já silencia
em
mim... .. .. .