Coração On-line

(Virtualidade e Impessoalidade)

Gostaria de deixar de lado a semântica para escrever palavras, que se soltam da ponta esferográfica da caneta, usando a mim como mero instrumento de apoio. Não sei ao certo sobre o que escrevo, como também não sei explicar essa necessidade de escrever.

Estou no “saguão” de espera de um prédio de dois blocos, repleto de consultórios e clínicas médicas, aguardando ser recebido por um casal de clientes do escritório onde trabalho. Na poltrona ao lado, um jovem da geração “twitterr” mechendo no smart, logo ao fundo se aglomeram inúmeros comerciantes de remédios, sedentos por vendas superfaturadas, como lobos observando sua presa. Alguns mais experientes, outros ainda na euforia da puberdade canina. Todos se olham e conversam cordialmente, tentando absorver ao máximo uma falsa idéia de coleguismo, entretanto aos poucos deixam aflorar seus egos, que já não cabem mais dentro de suas pastas, abarrotadas de amostras “grátis”.

Neste contexto cruza por mim, inúmeras vezes Seu Tapejara, senhor que conheci a uns dois meses, aqui mesmo nesse prédio, aparenta 60 anos ou mais, destes certamente dez dedicados a portaria do Bloco “b”. Homem de voz calma, olhar tênue, nos aconchega com sua simplicidade, como se tivesse um pouco do avô de cada um de nós.

Neste último emprego, visito muitos prédios, clínicas, consultórios e de todos os “doutores” e “PHD's” que encontro, as pessoas que me chamam mais atenção estão nas portarias, verdadeiros guerreiros, que sobrevivem dando sustento à suas famílias com dignidade e coragem. Sabe-se lá quantos obstáculos tiveram que passar nas suas vidas, mesmo assim matam um dragão a cada dia sem titubear.

Nas horas vagas, pela manhã e ao anoitecer, é preciso ter cuidado para que a convivência durante o dia com tantos egos super inflados e opiniões distorcidas sobre os assuntos da vida, não me levem a estufar, inchando até estourar.

Me impressiona como falar sobre a vida, refletir sobre ela, seu sentido, caminhos, escolhas, se tornou raro. Aliás, as pessoas não conversam mais, tudo se resume a relacionamentos “on-line”. Estamos novamente “pecando”, de um lado adoramos as comodidades que a rede nos fornece, rapidez, agilidade, performasse, porém o que foi criado para “ganharmos” tempo, tem agora efeito reverso. O problema não são os softwers, o defeito aparece em nosso comportamento. Não nos visitamos mais com a frequência de antigamente, não conversamos calmamente, não choramos, rimos pela internet, construímos cidades, jogamos poker on-line, não há mais pessoalidade, vivemos conectados. De nada me surpreenderia se em pouco tempo a teoria fictícia, aplicada no filme “Substitutos” seja incorporada a nossa realidade.

Aliás, que realidade é essa? A que vivemos ou imaginamos? Ou ainda a que sugerem a nós em jogos simuladores e programas virtuais de “entreterimento”?

Os relacionamentos acompanham essa marcha da tecnologia e estão se tornando cada vez mais velozes e artificiais, as emoções estão na tela do computador. Não me surpreenderia se substituíssemos nossos mortais corpos, por máquinas que fariam as “coisas” por nós, enquanto ficamos 24 horas conectados (acreditem esse é o sonho de muita gente, por ai!!), pois nossas mentes já estão alienadas a virtualidade e a impessoalidade e, o nosso coração. Hãã?? Bem, o que é isso mesmo? Aaa sim serve para bombear o sangue.

Lucas Carini 10-06-2011

Lucas Carini
Enviado por Lucas Carini em 10/06/2011
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