Recriando.
O poeta não inventou a relva; ele deu cor e nova textura a ela. O céu, até onde sei, não é uma criação poética ; o poeta deu ao céu sentidos outros. Do mar que ora aproxima, ora afasta, digo o mesmo.
Nem a palavra, o poeta criou, o poeta a usa como bem ou não quer. O poeta não confeccionou cheiro, nem perfume de flor. O poeta não inventou o amor. Nem eu, nem eu, nem eu.
Ao poeta cabe transformar e não criar. Mesmo o texto rubricado como ficcional é baseada na vida ou na arte que a imita. Ninguém cria a partir do nada.
Poetas juntam fatos, vestem sentimentos, brincam com o passado e com o futuro. Poetas são empáticos. Colocam-se na pele de outras pessoas. Idealizam com fundamento em experiências anteriores. Lembram, sentem e projetam sentimentos. Reduzem ou amplificam algo experimentado ou observado.
Poetas desejam outra vez o já desejado e nunca o que não foi um dia aspirado. O poeta se diz fingidor de uma dor que deveras sente. O poeta confunde e, com as melhores intenções, mente. Mentiras sinceramente poéticas.
Postado por Evelyne Furtado. às 21:23 0 comentários