Recriando.

O poeta não inventou a relva; ele deu cor e nova textura a ela. O céu, até onde sei, não é uma criação poética ; o poeta deu ao céu sentidos outros. Do mar que ora aproxima, ora afasta, digo o mesmo.

Nem a palavra, o poeta criou, o poeta a usa como bem ou não quer. O poeta não confeccionou cheiro, nem perfume de flor. O poeta não inventou o amor. Nem eu, nem eu, nem eu.

Ao poeta cabe transformar e não criar. Mesmo o texto rubricado como ficcional é baseada na vida ou na arte que a imita. Ninguém cria a partir do nada.

Poetas juntam fatos, vestem sentimentos, brincam com o passado e com o futuro. Poetas são empáticos. Colocam-se na pele de outras pessoas. Idealizam com fundamento em experiências anteriores. Lembram, sentem e projetam sentimentos. Reduzem ou amplificam algo experimentado ou observado.

Poetas desejam outra vez o já desejado e nunca o que não foi um dia aspirado. O poeta se diz fingidor de uma dor que deveras sente. O poeta confunde e, com as melhores intenções, mente. Mentiras sinceramente poéticas.

Postado por Evelyne Furtado. às 21:23 0 comentários

Evelyne Furtado
Enviado por Evelyne Furtado em 10/06/2011
Reeditado em 25/11/2022
Código do texto: T3026204
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