POBRES DE NÓS!

Então, eivado de tanta melancolia desprovida de sentido porque não existe razão para esse estado de letargia angustiante, fico semipasmado a garimpar as palavras, a desdobrar-me em pobres versos que não se completam, a deixar-me levar pela impetuosa enxurrada de tristeza traduzida na incoerente melodia que toca em algum lugar num tom monótono e enervante. A brisa foi sufocada por algum movimento do tempo, nenhuma folha balança, nenhum pássaro voa, nenhum beija-flor flerta com rosas enjardinadas. Tudo conspira em prol da melancolia, do desamor, do abandono, de pontes despedaçadas, de beijos esquecidos, de instantes cabisbaixos. Fogem-me a magia poética da borboleta esvoaçando em derredor, a doçura contagiante de perfumes florais, os sorrisos fugazes que esmaeceram, o fascínio das delícias proporcionadas pelo viver.

Por onde andarão as gargalhadas que despertam a alegria e nos conduzem também na deliciosa corrente de repentina e instantânea felicidade? Onde estarão os olhares sedutores que povoam as ruas e se encontram em inesperados lugares? Perderam-se em sombrios entardeceres ou negros ocasos as rimas, a ternura e o fascínio que embelezam o por do sol? Não escuto o grito feliz da petizada se divertindo nos pátios escolares, já não vislumbro aquela brilhante, embora tênue, luz piscando ao fim do túnel negro, esqueci-me até mesmo se ontem emiti algum sorriso ou balbuciei qualquer frase de conforto e simpatia. Há um chocante e infausto clima de perecimento no ar, de lágrimas caindo em faces transformadas em esgares por momentos dantescos da vida.

Penso que o mundo parou em meio aos trâmites legais e se deixou levar pela ironia do destino. Nada vive como se vivesse, mas apenas em ponto vegetativo, ninguém ri os risos encalorados, mas os sardônicos, os irônicos, os bobos. Todos fazem ruídos desnecessários e irritantes somente para incomodar, para angustiar o desejo alheio de tranquilida de.Tantos universos de hipocrisia descortinam-se aqui e ali, lá e cá como se tal espécie de comportamento se traduzisse no mais comum e natural de todos no caráter humano. Gente que vive sozinha por opção e diz que a solidão dói não consegue ultrapassar essa barreira psicológica a impedir que fuja dessa tenebrosa caverna onde vive e vai morrer; gente ansiosa por amar, mas não tem iniciativa nem perfil para atingir a meta; gente que odeia querendo amar e ama querendo odiar.

Desviam rios de seus leitos, derrubam e queimam florestas, matam animais e aves pelo macabro prazer de extinguir, de ver a queda da morte dando seu funesto espetáculo. Temo que o medo já seja completo senhor de nossos passos e não tenhamos mais prazer na companhia dos semelhantes. Uma amarga sombra paira sobre quase tudo e quase todos. O momento é de jogar-se aos pés de Deus, de suplicar misericórdia, de pedir perdão, de arrependimento. Demo-nos as mãos enquanto ainda é tempo e também nos perdoemos uns aos outros.

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 10/06/2011
Reeditado em 10/06/2011
Código do texto: T3025920
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