Um Castelinho no caminho da mina
Na antiga Rua do Bongue, hoje Monsenhor Júlio Engracia, lá pelas bandas da Catedral existe uma construção inacabada. Todos nós itabiranos a chamamos de Castelinho.
É uma construção que sempre foi palco de histórias e lendas, que povoavam as mentes dos antigos meninos da velha Itabira
Muitos a atribuem a uma maldição por causa do seu não acabamento.
A Rua do Bongue tem esse nome por ser o local onde residia a maioria de afros descendentes. Dizem que um morador antigo daquelas imediações, conhecido por todos como o velho Elias do Cascalho, era o benzedor e curandeiro mais famoso do Mato Dentro. Usava poderes sobrenaturais para ajudar as pessoas. Quando o médico não conseguia resolver a situação, o velho Elias resolvia.
Em certo dia, sentiu-se ofendido por ter sido chamado de feiticeiro por um vizinho.
Por tal motivo ele amaldiçoou o casarão daquele vizinho com as seguintes palavras: “neste local ninguém jamais terá sossego”. Pois bem, é lá, justamente nesse terreno que foi construído o Castelinho!
Consta que a construção foi iniciada nos anos cinqüenta. Suas linhas arrojadas destacaram em relação às outras construções da cidade. Mas, pelo que dizem uma demanda com o município embargou a construção. Demanda essa que perdura até os dias de hoje.
Percebe-se ao longo dos anos, que ninguém consegue morar no castelinho por muito tempo e este legado ficou em nossa historia. “O Castelinho da Rua do Bongue é assombrado”.
Dizem que quem passa por aquela rua nas horas mortas percebe barulhos estranhos em seu interior.
Nas minhas lembranças de menino, tenho minhas experiências de pavor ao transitar naquelas imediações.
Era o castelinho cheio de sombras e fantasmas que aterrorizava a região.
Mas, em dias de procissões, ficávamos cheios de coragem. Fazíamos questão de chegar bem pertinho e até tocar em suas paredes.
Aproveitávamos o grande número de pessoas ao nosso redor para desafiar os fantasmas escondidos no seu interior.
Durante muitos anos o Castelinho foi alvo de apedrejamento, prática usada pelos meninos da época. Jogar pedra no castelinho era o Máximo.
Após a aula do Grupo Escolar Coronel José Batista ou da missa das dez na Matriz do Rosário, enchíamos os nossos bolsos de pedras de minério e fazíamos questão de atirá-las nas portas, janelas e telhados daquela construção.
Sentíamos uma sensação de vingança.
Parecia que estávamos atingindo os fantasmas que povoavam as nossas mentes.
Aquilo nos fazia bem!
Voltávamos para nossas casas na certeza do dever cumprido.
De tanto o Castelinho ser atingido pelas nossas pedradas, os proprietários vedaram as suas janelas com tijolos.
Todas as vezes que passo por ali bate uma saudade daqueles dias.
Olho para o chão!
Não vejo pedras!
Faço uma pergunta para mim mesmo.
Por onde anda os meninos e os fantasmas da minha infância´.