FLERTE NA IGREJA
Uma das grande verdades da vida é a afirmação de que a atração por uma pessoa não escolhe hora nem lugar para acontecer. Ela surge, repentinamente, não importa a classe social, a religião, a cor, o sexo etc. Programá-la então é algo totalmente inadmissível. O ideal mesmo é quando neste quesito há reciprocidade. Pois sendo assim, tudo flui de maneira mais fácil para as duas partes atingidas pela flecha do cupido.
Vejamos este caso inusitado que aconteceu no interior de uma igreja, por ocasião de uma cerimônia religiosa. O rapaz que, neste caso, sintonizou os olhos de uma moça, não era outro senão um seminarista, que inclusive, no exato momento da flechada, ajudava ao padre. Algumas pessoas mais perspicazes, para não dizer, curiosas, bisbilhoteiras, logo se encarregaram de propalar aquele flerte num ambiente sacrossanto.
Tão logo terminou a missa, aquele adolescente que estudava para se formar padre, sentido-se nas nuvens e muito menos sem entender nada do que estava acontecendo no seu âmago, tentou logo procurar aquela jovem, mas em vão. Ela se escafedeu, misturando-se entre as outras pessoas, ficando difícil encontrá-la.
Aguardou outra oportunidade, de preferência num local mais adequado, por exemplo, a pracinha daquela pequena cidade. E esta chegou, mas quando a viu e já ensaiava um meio mais sutil para se aproximar e puxar assunto, como o tempo já ameaça chuva, não demorou, o toró caiu e aquele primeiro encontro foi postergado à sua revelia.
Só que tudo isto aconteceu na véspera daquele seminarista regressar ao colégio interno, localizado em outra cidade. Só que antes de partir conseguiu pelo menos o endereço daquela jovem que cativou o seu coração, a qual morava numa cidade mais distante, pois estava ali só passando alguns dias de férias.
Logo que chegou ao seminário, a primeira atitude daquele jovem foi escrever uma carta bem romântica e caprichada àquela jovem. A resposta veio incontinenti. E tudo estava acontecendo como ambos sonhavam e pretendiam. Declarações recíprocas de amor que iam alimentando aqueles dois corações separados por uma distância ingrata, mas necessária, o que fazia aumentar mais aquela paixão ou amor platônico em toda a sua plenitude. Ele 17 anos; ela, 15. Era uma paixão tão bonita quanto cega que valeu a pena enquanto durou.
Pois no final do ano, aquele jovem, sentindo-se obrigado a procurar outro colégio para continuar seus estudos, pois a igreja resolvera desativar o seminário onde ele estudava, e sendo assim, o ex-seminarista teria que ir para São Paulo, fazendo com que ele terminasse, paradoxalmente, aquele namoro, que nem bem começou e muito menos criado raizes. Até o primeiro e último beijo de tão cândido e respeitoso, que ninguém poderia imaginar, ao ver aquela rápida cena tão puerial, que ali estivesse um casal de namorados num sutil momento de despedida, o qual parecia não entender ainda nada sobre o sentido da vida que estava agora no seu alvorecer.
João Bosoc de Andrade Araújo
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