Tão interessante as nossas relações interpessoais!
Fico no meu observatório secreto e guardando comigo as minhas constatações.
Como somos difíceis no trato social, não é?
Temos pessoas que apenas ao observá-la, já constatamos: - Eta, que pessoa chata!
Passados 10 minutinhos de conversação, já achamos aquela criatura um ser adorável.
Olhamos aquela comida e logo constatamos: - Xii, deve ser horrivel? 
Sequer provamos, mas já sentenciamos: - Péssima!
Quando na verdade, ao degustarmos a primeira garfada, nos arrependemos grandemente da constatação precoce e equívoca.
Olhamos aquele rapaz feio, franzino e logo dizemos conosco mesmo: - Deve ser um saco trocar ideias com aquela persona, mas uns 5 minutos de bate papo, é suficiente para trocarmos telefones e querermos interagir outras vezes com aquele ser formidável.
Incrível como nós, meros e frágeis mortais, somos tão preconceituosos e seletivos muitas vezes, e sem sequer dizermos uma única palavra, apenas no nosso olhar ou no nosso 'filtro' psicológico de seleção de contatos.
Eu amo as pessoas independentemente da patente ou status social. Falo com um moribundo, troco ideias com os profissionais do sexo, cumprimento os porteiros, vigias e seguranças, dou bom-dia quando entro num elevador, mesmo não conhecendo ninguém e muitas, muitas vezes ninguém responde! Tanta grana e tanta má educação também! 
Não me aborreço ao ser investigada em meus pertences quando adentro a um local com sensores. Dou um lanche aos garis, paro na rua para conversar com eles, saber como é o dia-a-dia deles. Tão interessante! Amo aqueles profissionais. Aprendo um monte de coisas e findo por me sentir mais útil ao meu semelhante e saber lidar com as diferentes classes de pessoas (infelizmente existe), mas no final, fico mais convicta que somos todos apenas um pedaço de barro na mão do Oleiro e que uma simples bactéria, um pequeno vírus nos leva à sepultura.
Ficam nossos títulos, nossas honras, nossas aquisições materiais e voltemos nós ao pó da terra!
Não sei se os caros leitores já viram o quantitativo de cinzas quando um ser humano decide em vida que ao morrer gostaria de ser cremado, já viram?
Eu já tive a oportunidade de ver. Era um cidadão de alta estatura que viera à óbito, e sua família cumpriu seu pedido que consistia em cremação do seu corpo pós morte.
Daí há pouco, saiu alguém com um caixote de cinzas, e, fim: Ali estavam as cinzas daquele homenzarrão!

Me deu um arrepio esquisito, mas logo compreendi: Somos apenas pó e cinza, nada mais! Balancei as madeixas, e falei para mim mesma: - Nada és, Fátima, prá que tanto orgulho e vaidade de vez em quando? - Desce já das tamancas, pó da terra! Declarei.

Ergui a cabeça, melhorei a visão acerca da vulnerabilidade da vida. Sou uma  pessoa pobre  de recursos financeiros, como cuscus com charque (prato típico pernambucano), mas muito rica, rica mesmo de afeto e solidariedade para com o meu semelhante.
Tenho tudo, ora!
Mas, diferentemente de quem é detentor de tantas coisas, eu permito que tirem sempre pedacinhos de mim para viverem melhor!
Fique à vontade! Pode levar fragmentos de mim, pois eles logo se reconstituem e cada vez mais belos!
Contos e Encantos
Enviado por Contos e Encantos em 09/06/2011
Reeditado em 10/06/2011
Código do texto: T3024988
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