Um dia de Daniela
Sentava-se na primeira carteira da fila do meio. Um lugar onde estrategicamente ficava bem próxima da professora, na esperança de não perder um momento sequer do que era passado em sala de aula pela mestra. Mas, vez por outra, seu pensamento voava naquele dia quente de verão e caia na piscina do clube do esquina, próximo à sua casa. A sala de aula, lotada, com mais de quarenta crianças suadas ao final da última aula. A professora pedia insistentemente que parassem de falar, que ficassem quietos. Mas sua voz tornavasse rouca e as crianças ainda inquietas queriam mesmo é estar longe dali, correndo soltas pelas ruas, praças, cachoeiras e lagoas daquela quente cidade do interior mineiro. Bate o sino e alegres as crianças batem em retirada. Daniela, só pensava em ir para casa, almoçar, fazer os deveres e correr para a piscina. Mas, depois do almoço, já de biquini, ouve a proibição da mãe: "Tem que esperar no mínimo uma hora para ir nadar, já não te falei o que aconteceu com o filho da Roberta, que foi nadar logo depois do almoço menina?!" Temendo que o mesmo acontecesse com ela, se resigna a esperar o tempo determinado, contanto os minutos e olhando o relógio a todo instante. Quando vê o ponteiro anunciar o momento certo, sai correndo pela rua com a irmã gêmea e as duas mais velhas. Chegando ao clube depara-se com vários operários pintando a entrada, mas nem percebe o olhar de cobiça que eles lançam sobre suas irmãs adolescentes. Chegando ao vestiário, o chão já está completamente molhado por outras garotas que se banharam. Os raios de sol que entram pela alta janela de vidro não conseguem secá-lo. Nada disso importa, o que ela quer é entrar no chuveirinho, se molhar antes, como regra do clube e pular na piscina de água gelada, sob o sol escaldante. As imãs mais velhas procuram um canto para passarem bronzeador, escondido do zelador, pois é proibido usar qualquer creme na piscina. Daniela é chamada pela irmã gêmea, após uma hora, para irem ao parquinho. "Vem também, Rafaela" , chama Daniela, que ainda criança, sem a ambição da beleza, não compreende a obsessão da irmã em se queimar ao sol e não querer brincar no parquinho. Sem se importar com a recusa, vai com a gêmea subir em balanços e gangorras colocados nas areias do parque. Depois, voltam novamente para as brincadeiras na água, que são as que mais gosta. O sol, caindo por trás do muro que cerca o clube, anuncia a hora de ir embora. Lá vem o Sr. Manoel, zelador, tentando tirar as crianças - difícil missão. Elas pulam de uma em outra piscina, fugindo dele. Ele faz cara de bravo, mas no íntimo se diverte com a algazarra delas, que por fim resolvem obedecê-lo, quando percebem que ele não as deixará ficarem por mais tempo. Daniela e as irmãs vão embora pensando no próximo dia em que retornarão para a diversão no clube.