Perseguida ou motor a explosão!
O calor e o barulho do motor irritam os passageiros. Vez ou outra o motor entra em pane e os passageiros precisam sair e esperar no sol escaldante.
Um odor de suor misturado com óleo diesel inunda as narinas. O motorista expõe as axilas ao erguer a tampa do motor. Desodorante vencido!
Todos cansados parados no acostamento de uma rodovia movimentada. Conversam entre si. Uns praguejam a viação e seus ônibus velhos, outros conversam futilidades, outros tentam ajudar o motorista. Os minutos passam e a paciência dos passageiros, também!
No interior do ônibus um passageiro dorme a sono solto. O seu ronco é percebido pelo lado de fora. O motor dá uma explosão acordando o passageiro. Um grito e um salto! O homem corre para o lado de fora apontando uma arma, além de exibir as tatuagens mal feitas.
Gritos!Choros! Risos histéricos se fazem ouvir! O homem em brados olha para o motorista e aponta o revólver.
_O que está acontecendo? Preciso ir logo até a rodoviária de Tietê para pegar o ônibus para São Paulo. Tenho que estar na penitenciária até as 18 horas. Estou beneficiado com o indulto da Páscoa e não vou perder as minhas regalias. Concerte logo este motor senão vou usar esta máquina na cabeça de um passageiro.
Os soluços se tornam cada vez mais histéricos.
_Boca calada! Se alguém pisar em mim leva chumbo!
O motorista nervoso deixa a chave de fenda cair dentro do motor. Neste instante outra explosão e o motor dá a partida.
_Motorista de merda! Seu merda! Ao ouvir esta expressão lembrei-me do senador Renan Calheiros gritando em pleno plenário para outro senador. Cruzes! Os políticos usam e abusam da linguagem dos presidiários, lá pelas bandas de Brasília.
O presidiário mandou o motorista sentar a botina no acelerador e não parar. E, assim foi feito. O homem em pé ao lado do motorista começa a contar causos.
Estou neste bafafá graças a minha mãe. O latrô aqui precisou visitá-la, depois de dar conta das duas cavalas em duas cidades diferentes. Elas quase me mataram com as suas perseguidas!
Vinte minutos e o ônibus faz seu pit stop na rodoviária da cidade de Tietê, o dito cujo esconde a arma joga um beijo para todos e num pulo sai correndo para entrar no outro ônibus que o levaria para a capital.
O medo ainda ronda os passageiros! E, sem pensar o motorista segue em frente, com o motor vez ou outra soltando uma explosão!