AI QUE SAUDADE ME DÁ DA VIDA QUE NUNCA TIVE
 

“Uma vida completa talvez seja aquela
 que termina em tal identificação com
o não-eu que não resta um eu para
morrer”
(Bernard Berenson)
 

A noite de ontem  foi de muita chuva por aqui, na falta do que fazer fiquei lendo versos de uns e de outros até que me deparei com estes versos de Jobim... Se um dia eu fosse tão forte quanto você / eu te desprezaria e viveria no espaço . / Ou talvez então eu te amasse. / Ai! Que saudades me dá da vida que nunca tive.

Saudade da vida que nunca tive... Se não a tive, passado essa vida não tem. Alguém já falou que vasculhar o passado é como penetrar num imenso sistema de cavernas dispondo apenas de velas para iluminar o caminho. Quanto mais profundamente o explorador se aventura nas suas câmaras e na ramificação infinita dos seus túneis, tanto mais se apercebe da escuridão que envolve a sua minúscula auréola de luz.


A chuva continua e eu aqui feito o bobo da Clarice, olhos fixos no tempo,  quase sem me mexer e se alguém me perguntar por que não faço alguma coisa eu diria: estou pensando, estou pensando...

 



 
 
 
 

Zélia Maria Freire
Enviado por Zélia Maria Freire em 07/06/2011
Reeditado em 07/06/2011
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