Imagem do amigo fotógrafo  Severino Silva do Jornal O DIA.

HOMENS AO CHÃO NO FRIO DA NOITE...



Noite fria. Úmida. Retornávamos para casa depois de uma tarde agradável na companhia de amigos queridos.  Desejei um banho bem quentinho e cobertores para aquecer o corpo. Mais adiante, porém, uma cena esfriara completamente minha alma. Dois homens, deitados no chão duro e frio, enrolados em cobertores rotos.

Consternados, o carro encheu-se de silêncio e olhares compassivos para eles. Tantas perguntas silentes em nós. Meu filho querendo entender com perguntas o motivo daqueles homens lá fora na fria noite de chuva. O que os levara a uma carência de vida? Vício? Desamor? Desilusão? Insanidade? Desemprego? Tragédias naturais que destruíram muito mais do que um lugar para morar? Não importa qual a razão daquele fim. Eram vidas jogadas como restos dos destroços nas enchentes. Tipo coisa que ninguém quer por não estar em bom estado ou aquilo que não se deseja ver nunca mais.

Dilacerante esta dor de impotência por não poder fazer muito. Um prato de sopa. Um cobertor. Um agasalho. Uma palavra que inflame o espírito. Mas e a dignidade do ser? A integridade do homem? Quem pode devolvê-la? Há quem possa! Mas haverá quem faça?

Aquela cena não se apaga. Está bem viva ali, lá, aí, aqui e além. Em toda parte corpos estendidos no chão. E estão vivos! Ou não!? Talvez os corpos estejam vivos, mas a alma... Ah, pobre dessa alma que se deita sem esperança do amanhã ou cuja esperança, se houver, seja por mais um prato de sopa ou um cobertor que lhe cubra outra noite fria de alma congelada.

Sinal abriu e vivi a noite mais fria da vida. Olhei aqueles homens no frio da noite com olhos de amor fraterno. É! Eles poderiam ser um filho meu. Uma irmã. Meu pai. Meu amigo. Ou até ser mesmo eu e você.