A FAGOCITOSE ESCOLAR (E a morte levar-me-á cruelmente, mas já muito tarde!)
Por Claudeci Ferreira de Andrade
Pela ordem dos nomes, na lista de chamada, arbitrariamente, pensando eu que estava sendo justo, dividi o tal primeiro ano "A" em grupos de três alunos, dei a cada grupo uma regra de boa convivência na escola. Minha proposta, àquela aula de filosofia, pedia a eles que me esclarecessem melhor as vantagens por obedecê-la e as consequências por desrespeitá-la, exemplificando os argumentos e elaborando estratégias contra o bullying.
Eles não se toleram, isso é atual, há tempo percebi, e para não sair dos trilhos, desrespeitaram-se, uns aos outros, com maus-tratos, e a mim agrediram-me verbalmente, fizeram uma balbúrdia na classe. Eles queriam se escolher, segundo as "panelinhas" das fofocas! Resisti e prossegui. Posteriormente, no fim daquela aula, quando me entregaram os trabalhos escritos, eu estava desestimulado ao ler aquelas bobagens: agressores falando de decência e ordem social! Tive repugnância pelas incoerências retratadas. Depois de muito pensar, reconsiderei e usei de critérios brandos ao atribuir nota naqueles trabalhos, crendo na Palavra bíblica que diz: "a resposta branda desvia o furor". Queria ensinar-lhes lições de convivência com meu exemplo. Em parte, eu também estava me precavendo das represálias dos meus superiores. "O fraco rei faz fraca a forte gente." (Luis de Camões). E Mahatma Gandhi indiretamente justifica o pensamento camoniano: "O fraco jamais perdoa: o perdão é uma das características do forte." Então, qualquer um pode concluir que não perdoar é explorar o seu trabalhador sem dó!
Aqui me lembrei quando eu era pastor de igreja, a missão dava-me um alvo de batizado a alcançar e, nas conferências, apresentava muitas pessoas, ao batismo, despreparadas só em busca do prestígio dos índices. Era um banho de alegria para todos! E não foi por isso que saí da igreja evidentemente, diga-se de passagem! Na escola, é semelhante, ganha-se por cabeça.
Sempre estimo os leucócitos comedores dos vírus e bactérias (fagocitose), numa missão suicida, para a saúde do organismo. Também é um bom exemplo de estratégia funcional no combate ao bullying e ao desrespeito, mas os ditos alunos jamais aprenderão esta lição, nunca estão dispostos a "andar a segunda milha", mesmo enquanto os sábios repetem sobre os trabalhadores que fazem apenas suas obrigações, taxando-os de inúteis! E aqueles, os meus alunos, são qualificados de quê? Não fazem nem suas obrigações de classe; quando fazem alguma coisa, depois de muita revolta, certamente foram subornados por nota e ainda questionam o valor de cada atividade para ver se lhes compensa.
Eu já não sei mais responder, se as propostas de trabalhos na tal sala de aula resultam em aprendizagem técnica, por mais criativas que sejam as aulas, todos já estamos cansados. Perdeu-se o foco, por isso me atrevo a perguntar, lembrando que eles sempre copiam as respostas uns dos outros e colam: E qual professor não copia suas provas e atividades na internet?
Ô Deus, não me deixe intoxicado! Não quero ser a fruta podre que envenena seus predadores. Mas, por último ser-lo-ei, e a morte, já experiente de fazer cobaias os meus inimigos, levar-me-á cruelmente, mas já muito tarde. O fracasso me enterra um pouco cada dia, por não ver prosperar o que faço, pois eles são muitos.