Leite derramado
Fitamos o mar e a desajeitada paulistana que tentava um papo com o sol a fim de pegar uma cor. Sorriamos das nossas apostas. Na carta dele, o acerto. O nome do garçom começava com a letra sugerida, perdi a aposta e o coração.
Era carnaval, e por aí se sabe o desespero que estava àquela terra quente da forte praia, que, na verdade, era praia do forte. Entreguei os pontos. Você não terá dúvidas dessa confissão, de agora em diante terá medida certa no teu pensamento. Sorria!
Só hoje, bem mais destemida, reavaliei teu pedido. Sim, porque o meu sorriso daquela hora só podia ser nervosismo, não era apenas cautela, embora, eu tivesse medo.
- Como ficaremos de hoje em diante? Vamos namorar, pequena?
A pequena ficou menor do que já é, desconversei e sumi. Sumi pelas brechas dos teus olhos que me desenhavam com carinho. Eu queria saber responder e não podia. Você sorria e aguardava resposta. Levei na brincadeira, mas meu coração estava sério, respeitoso, em tino.
Mudei o assunto e te fez esquecer a conversa. Senti alivio, medo, felicidade, medo, carinho, medo. Mas, você me segurava à mão e tudo passava. Parecia que aquele era o vigésimo primeiro ano ao teu lado, e não apenas o primeiro mês da nossa decisão.
Preocupado com minha alimentação, me enchias de mimos. A moqueca gostosa do almoço, as compras do supermercado e o picolé surpresa. Até um copo com água tinha gosto diferente, acho que era a tua boa vontade que dava gosto em tudo.
Dormimos feitos anjos à tarde, fadados pelo sol da primeira manhã. Antes de você, eu me aprontava pra noite de sábado, naquele eu romântico e sonhador, contando os minutos para me aprontar pra você e seguir de mãos dadas pelo cenário noturno dos enamorados.
Foi assim no primeiro, segundo, terceiro dia ao teu lado. Uma lua no céu e um monte de estrelas em meu peito que surtia como efeito da nossa paixão.
No último dia eu me enganava nas horas. Gostaria de ter adiado aquela partida, que me causava um nó na garganta. Estranho.
- Tem ficado cada vez mais difícil me despedir de você.
Parece que eu enxugava as minhas lágrimas por dentro com o teu abraço. Andei devagar até chegar àquele elevador, não queria te deixar mais uma vez. Tranquei a porta e voltei sozinha, mas, eu sempre te esperei.
Voltei para casa acompanhada da saudade e das palavras que te entreguei.
Vieram as mensagens, os telefonemas e os novos planos. Você me ratificava o pedido, e me enchia de dúvidas, a fim de que eu deixasse de ser incrédula e tentasse.
- Pequena, se você quiser podemos colocar o namorando no Orkut.
Que bobagem era atestar na rede social o nosso compromisso (?). Fiz que esqueci de responder, e desconversei na sms. Mais uma vez, passou despercebida a decisão.
O que não consigo entender nesse tempo de chegadas suas, foi a decisão de não te dizer um SIM quando, na verdade, ele sempre esteve dentro, bem dentro de mim.
Tive medo das partidas que passariam a existir depois do meu SIM, e acabei ficando com o pequeno e mesquinho NÃO, o NÃO TENTAR SER FELIZ...
Triste de quem se arrisca no silêncio por medo, foi assim que nos perdemos
Mas, prometo: Assim que te encontrar de novo, eu te entrego o meu SIM..