Era uma vez...

A vida para ele não significava mais nada. Ao mesmo tempo em que lia o jornal do dia, um copo contendo um pouco de veneno era o que degustava. Aprofundava-se com vontade nos goles à medida que as notícias ficavam mais tristes. Parecia-lhe o fim, o encerrar-se de um ciclo, uma bela estrada construída arruinada pelas pedras que a vida nos estabelece.

Antes de aprontar a mesa para a ingestão da bebida que o viria matar, ele refletiu muito. Cansou de pensar. Parou para digerir sobre as causas e conseqüências, pensou nos amigos, filhos, família, mas parece que além dos seus olhos brilhava o caminho mortal. Nada mais tinha cunho significativo. Quando o ser humano atinge este estágio sua mente poluiu-se de tal maneira que dificilmente as barreiras racionais, emocionais e espirituais conseguirão romper tamanho negrume estabelecido pelo pensamento negativo. Talvez nem mais sua consciência encontre-se em seu físico, a alma tenta resistir, mas o rastro deixou pegadas que não podem mais se apagarem. A morte é sinal de vida nova. Ledo engano.

Sanar aos problemas procurando diminuir ou encerrar com a própria vida é estabelecimento advindo de seres malignos, da inconsciência, do estado febril. Agora é só observar, pois ele não quer mais estabelecer-se entre os vivos. Voltei agora do seu funeral.

Sergio Santanna
Enviado por Sergio Santanna em 05/06/2011
Código do texto: T3016122
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