DINHEIRO E CHIFRES
Fui assistir à adaptação de uma das peças do grande dramaturgo, ator e escritor Jean-Baptiste Poquelin, pseudônimo Molière, que nasceu em Paris e morreu com seus 51 anos, “Escola de Mulheres”(1662). Seu ator principal é o grande Oscar Magrini, que dá um show de representação, interpretando Arnolfo, um quarentão, que sempre se envolveu com mulheres comprometidas por medo de ser traído.
Molière provou ser atemporal, já que trata das pretensões dos burgueses ricos e de “comportamentos e sentimentos como inveja, cobiça, orgulho, avareza e arrogância que são inspirações importantes para a composição de suas obras”. São temas que até hoje são atuais e que dizem respeito às relações humanas.
Em “Escola de Mulheres” os temas casamento e adultério são centralizados. Arnolfo, ao desejar casar, acreditava que a escolhida, no caso a Inês,deveria ser bela, alfabetizada, mas ser inocente, ingênua,submissa, dependente,estúpida e uma pobre idiota.Investiu em Inês, julgando-a pobre, já que era criada por uma camponesa, e sua educação deveria ser a básica. Segundo Molière, “Em qualquer negócio o dinheiro é a chave mestra”. Arnolfo não contava com a imprevisibilidade do comportamento humano e Inês se apaixona por Orácio, filho de seu grande amigo Orionte. Ela era inocente, bela e sincera, mas o amor foi uma força que não teve como controlar. A “escola” em que havia aprendido os princípios para ser uma boa esposa falhou, diante da força do sentimento arrebatador que sentiu pelo jovem Orácio e que era recíproco. Confessa ao seu tutor que ele faz e sente muitas coisas , já seu eleito quase não diz nada e sente tudo por ele.
O adultério acontecia por culpa dos homens, por serem eles por demais complacentes. As mulheres quando são intelectuais, começam a escrever, possuem belos talentos e são belas, conseguem enganar com destreza seus homens e a malícia faz com que elas usem disfarces para fugir do domínio de seus maridos, mesmo sendo senhores e proprietários delas.
A "Escola de Mulheres" deveria ensinar que a mulher deve honra ao homem, respeito, obediência, submissão, docilidade, humildade e ser completamente dependente; tudo isto contido em uma cartilha e que deveria ser aprendido com fervor. Arnolfo acreditava que ”a onipotência é para quem tem barbas”, mas se depara com a vontade feminina de sua escolhida,a força do amor que não teve meios de lutar e vencer. Moliére afirmava que “Ainda que sejamos duas partes de um mesmo todo, as duas partes não são nada iguais. Uma é suprema, e outra, subalterna. Uma, em tudo, tem que submeter-se à outra, que comanda.” É assim que acontece a relação de um casal.
Suas crenças de que o marido é o senhor na relação, baseava-se em que o casamento passa por dois níveis de convivência: um é altamente moral, social e econômico e o outro diz respeito ao que a mulher verdadeiramente sente, como sua vontade de ser ela mesma, de sair do domínio de seu amo, não amado, onde ela é o que não é e ao ter a oportunidade de ter um amante, este representará a libertação, ir de encontro à mentira, então passando a existir como pessoa, feliz e amada como mulher. Longe das vistas de seu senhor ela entrega-se a uma verdadeira relação. Esta é a motivação para a mulher ser adúltera.
Arnolfo ao se deparar com a realidade da traição, antes mesmo do casamento, adota o lema: ”Para quem acha os chifres a suprema vergonha, não casar é a única forma de estar seguro.” Moliére está atualizado em sua peça.Valeu ter visto!