Amor palavra surrada
A grande confusão entre literatura e espirtualidade gerou certa mentalidade de que o vocábulo “amor” possui em si algo de redentor. Atualmente é inconcebível um texto de qualidade onde este vocábulo apareça centralizado. Noto que há uma enchente de “amor” verbalizado, grafado. Não causa danos, mas perde seu efeito real caindo quase sempre na pieguice, criando qusase que uma vandalização da sua importância em vão.
Emprega-se na primeira fase com entusiasmo. Mas aos poucos, com o amadurecimento e a lida com as palavras, vamos abandonando a superfície de um vocábulo para encontrar em seu âmago, novos rumos. Não é o que acontece com a maioria de amantes da palavra “amor”, já que acreditam na simples força desse vocábulo. O mais das vezs o que existe em torno dessa palavra são tolices espiritualizadas. Por contingência é luta perdida tentar ser compreendido pela maioria.
Não faz muito alguém dalém mar, na África deitou sobre mim a acusação de demagogo. Isso porque estou farto da cega adoração. Farto da meninice enjoativa das lendas, dos mistérios insondáveis curtidos de certeza. Serei então demagogo. Pois isto também se aplica a palavra “amor”. Tão cândida e tão ordinária. Tão batida que a simples aparição já transparece dúvidas sobre a qualidade presumida. O que existe é desamor literário. O derramamento emocional é patologia, não é poética. É apetite, mas não alimento. É pura voracidade. A mais explícita voracidade. O amor é uma palavra surrada, virou departamento e nuvens no vento.