AS ESTRELAS NO CÉU

Os astros celestiais sempre me fascinaram na universalidade da infância que vivi. Olhava-os admirado, fascinado e distraído, no entanto a um tempo temeroso e transbordando curiosidade, procurando ser revelado de alguma maneira pela transcedência metafísica de sua imensidão desconhecida. Eu queria saber o que fazia aquela imensidão transbordar num céu que cobria a vida, servia de teto ao Cosmos e não passava para mim de um insondável mistério. Tudo permanecia na incógnita, na densa escuridão da ignorância. Assim como havia os mares na Terra tomando conta de um espaço quase inimaginável e também deixando no ar o espírito do insondável, para mim o céu à noite se metamorfoseava num incomensurável oceano habitado por incontáveis milhares de estrelas brilhantes sob o comando severo da lua.

Sim, em minhas divagações a lua estava à frente dessas miríades de pontinhos espantosos e ditava suas ordenanças consoante o próprio desejo místico. Por essa e tantas outras razões, mil indagações gigantescas me assolavam nesses interlúdios de ingenuidade, e entre todas elas a mais perturbadora deixava-me na perplexidade absoluta em virtude do silêncio como resposta: quem será que acendia todas aquelas estrelas e a lua ao anoitecer? Seria o mesmo querubim que apagava o sol quando a tarde acabava? Porque a escuridão noturna ficaria ainda mais aterradora caso não houvesse o luar à frente de seu grandioso exército estelar. Quantos questionamentos sem qualquer possibilidade de resposta permeavam meu cérebro infantil!

Confesso, eu não ousava contar as constelações, temia apontar as estrelas porque as pessoas afirmavam, por absoluta superstição, evidentemente, que nasceriam verrugas. Acreditem, eu tinha o maior respeito por essas afirmações, acreditava piamente tratar-se de uma verdade insofismável. Portanto, eu temia, mas era um temor de criança, esse medo característico das mentes ainda não amadurecidas pelos instantes do cotidiano. E não era somente eu a passar por esse sentimento de receio, como toda a minha geração e demais contemporâneos. Pela ingenuidade do nosso tempo, pela distância da globalização que ainda não havia chegado, pela mentalidade de outrora tão sabidamente diferente do que se preconiza hoje.

As superstições usuais desse período infantil, normalmente fomentadas por adultos igualmente ignorantes e famintos de conhecimentos, colaboravam para o incremento do meu espanto e sensibilidade diante de um céu pejado de tantos mistérios. Qualquer estrela mais brilhante, alguma por acaso cadente, o piscar de um avião sobrevoando a noite, tudo se tornava razão para quase extremo pavor. Temíamos sobremaneira que um repentino brilho no espaço pudesse significar o princípio do fim do mundo, e isso representava nosso maior medo, o mais pavoroso. Por isso o respeito, o fascínio e o temor com que eu olhava na direção do infinito aéreo e me emocionava com tantas icógnitas vivas desafiando-me quando o instante noturno cobria nossa cidade e eu me sentia o menor de todos os átomos diante da grandeza celestial.

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 04/06/2011
Reeditado em 05/07/2021
Código do texto: T3014530
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