Crônica sobre descobrir o que já sabíamos

Hoje tive certeza de como minha vida está mudando os valores, invertendo sentimentos, transformando um dia após outro com mais gosto, mais cheiro, mais tato e ainda mais nitidez. Percebido apenas num almoço em família, com gosto de despedida com a mudança do meu filho para São Paulo. Nos momentos mais simples, nos detalhes mais insignificantes, meus sentimentos envolveram um turbilhão de emoções, porque tem história, tem passado e tem lembranças. Na minha vida fui verdadeiro ou pelo menos tentei sê-lo ao máximo. Aprendi com os mais velhos, com os livros e com os amigos. Dividi meu conhecimento com minha família. Meu amor por eles sobredeterminou minhas atitudes e minhas reações. Nunca quis mostrar à eles nada além do que eu realmente sou. Sempre reconheci minha ignorância bem rápido, tendo como princípio melhor aprender do que fingir saber. Vivendo assim, humildemente apaixonado por todos, meus momentos familiares sempre foram memoráveis. Posso afirmar que lembro de todos os dias que se passaram. Nada foi falso ou em vão. Daí um almoço simples, onde reunimos amigos, familiares, pretendentes a familiares como minha nora e genro, minha esposa, meus filhos e meu sogro, acabou por ser repleto de lembranças. Todas queridas. Um simples sorriso do meu filho fez-me recordar um milhão de sorrisos das pessoas que batiam os olhos no seu porte atlético com apenas quatro anos de idade, validando o apelido de “Tarzan”. Lembrou-me também da hiperativadade, da liderança entre as crianças, as vezes até mais velhas. Corriam o dia inteiro com aquele bando de primos e primas atrás dele. No seu sorriso estava também nossas quebradas de onda juntos em Cabo Frio, fortalecendo o sentimento de meu grande companheiro de mar, coragem e confiança. E assim entre uma taça de vinho e outra, entre um sorriso ou o ar circunspecto de seu rosto, minhas recordações se avolumaram, passei o filme dos momentos em que dividimos na vocação para aeronauta, no empolgamento da administração na Unb, da gerência de projetos, da pesquisa e dedicação em logística, enfim muita coisa que as palavras escritas não caberiam na memória deste aplicativo. Minha vida não está mudando, eu apenas tenho que me acostumar com a percepção de cada instante que vivemos e involuntariamente florescem sentimentos e lembranças numa progressão geométrica que às vezes assustam, confundem, embebedam-me de alegria. Fico feliz apenas com um simples olhar na face do meu filho.

puccinelli
Enviado por puccinelli em 03/06/2011
Reeditado em 03/04/2017
Código do texto: T3011534
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