A assinatura que não vi


     Roma >< amor: perfeito o políndromo.
     Me sinto feliz em Roma, e já disse isso milhões de vezes. Roma, escreveu a versátil cronista Danuza Leão, "é como uma típica mama italiana que abraça todos que lá vivem e seus visitantes". Correta aesta sua observação. 
     Tanto me alegro rezando no túmulo de Simão Pedro como traçando uma daquelas enormes pizzas servidas nos restaurantes da acolhedora Trastevere, ouvindo um "Buon apetito" dos seus sonorosos garçãos.
     Na última vez que estive na Cidade Eterna, passei uma manhã inteirinha perambulando pelo Vaticano. Um privilégio, né mesmo? Até para os incréus.
     Depois da bênção Urbi et Orbi, seguida de ruidoso aplauso da galera internacional presente ao solene ato papal, escutei um cordial "Buona Domenica!" do respeitado e muito sem graça papa Bento 16.
     Enquanto o Pontífice, num Cantochão desentoado, abençoava a cidade de Roma e o mundo (Urbi et Orbi), ao meu lado um jovem franciscano, de hábito, me chamou a atenção.
     O fradeco, recostado a uma das colunas de Bernini, comia, com impressionante voracidade, um reforçado sanduíche.
     Persignou-se duas vezes, e continuou mastigando o seu misto frio de queijo e presunto Parma. Juro que o imaginei num afresco de Giotto, o pintor de São Francisco de Assis.
     Muito bem. Eu estava na Praça de São Pedro, pertinho do obelisco, aquele pontiagudo monólito, de 320 tonelada, ali colocado, há séculos, pelo papa Sisto V.
     Alheio à multidão que a lotava, me pus a recordar o que lera, antes de deixar Salvador, sobre algumas curiosidades que poderia encontrar no Vaticano e adjacências.
     O Palácio Apostólico, a casa dos papas, por exemplo, que é visto de qualquer ponto da Praça de São Pedro. 
     Do seu último andar, através de uma das janelinhas dos seus aposentos, os papas, nas suas aparições programadas, ditam normas e abençoam o planeta Terra.
     Curiosidade: o Palácio Apostólico, lembra o escritor Nino Lo Bello, é uma dos maiores do mundo. E acrescenta: "É comparável apenas com o palácio do Dalai Lama no Tibet."
     Donde eu me encontrava, dava para ver, perfeitamente, a cúpula da Basílica petrina, e logo me lembrei de Michelangelo.
     Do mesmo lugar, admirei, demoradamente, as colunas de Bernini que formam dois imensos semicírculos.
     Curiosidade: ao concebê-las, Bernini quis dar a ideia de que eles, os semicírculos, simbolizassem dois imensos braços acolhendo os milhares de fieis  que visitam o Vaticano. Senti-me abraçado.
     De repente vi passar carros com a placa da Santa Sé. E nelas, as letras S.V.C - Statto Cità Vaticano. Para "romanos sínicos", segundo Lo Bello, as iniciais S.V.C. significam: Se Cristo Visse!
     Na porta principal da Basílica, dei de cara com alguns soldados da Guarda suíça.
     Curiosidade: ela foi criada, no século 15, por um Santo Padre conhecido como "o papa guerreiro" chamado Júlio II.
     Entrei na Basílica. E, imediatamente, dirigi-me à capela da Pietà. Procurei-a, sabendo que ela era a única obra de Michelangelo que recebera o seu jamegão. Sem dúvida, uma curiosidade.
     Lera que, com o seu divino cinzel, ele escrevera o seguinte: Michel, Angelus, Bonarotus, FlorentFacieba. Em português: Michelangelo Buonarotti, florentino, fez isto. 
     Minha miopia, porém, não permitiu que meus olhos atravessassem a cortina de vidro, a prova de bala que, já há algum tempo, separa a linda estátua ou imagem dos turistas que a procuram na igreja dos papas.
     Por isso, não consegui ler a assinatura do escultor de Moisés que, segundo fora informado, está (deixo a dica) "na faixa diagonal que atravessa o busto de Maria". O que lamento até a presente data.

                     
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 02/06/2011
Reeditado em 05/11/2020
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