O Toque da Morte
No tempo de uma noite eu vi a morte. Toquei nela com minhas mãos. Estava fria. Muito, muito fria. Até ali nunca tinha pensado que a morte era assim tão fria.
Olhei longamente para o corpo inerte à minha frente. Era a morte em pessoa, diante de mim. Parecia tão serena, tão calma, tão quieta. Me arrepiei até. Olhei o manto branco que cobria suas mãos.
E pensei: Essas mãos pararam. Não podem mais nada fazer. Olhei as minhas, tão rosadas. Quentes. Mexiam-se. Ainda podiam carinho e amor entregar. Ainda podiam tudo o que desejavam em palavras falar.
Com os olhos percorri o corpo da morte à minha frente. A face pálida, os lábios arroxeados. Tudo muito triste. Muito, muito triste.
Escutava o choro ao redor. As palavras do homem de Deus, despedindo a morte para ir em paz.
Ouvi os cânticos. Por que cantamos quando a morte chega? Por que choramos? Por que ela é a certeza da vida? A porta da eternidade?
Não sei. Não consigo compreender a morte. Só aceitar. E esperar, porque sei:
Hoje choramos a morte de alguém.
Amanhã alguém chorará a nossa!