Asilo e o andarilho: PARTE I
Mundo pequeno esse nosso! Na última quarta-feira (01/06) tinha planejado uma visita com meus alunos a uma instituição de idosos de minha cidade. Dividi uma das turmas que leciono em dois grupos, um visitaria o abrigo de idosos na quarta e outro na quinta. Até aqui, tudo bem... tudo normal perante o planejado. Quando encontrei com meus alunos do primeiro grupo, na praça, à tarde, como combinado antes, algo me chamou atenção. Quase saindo com o grupo de alunos em direção ao Asilo de Coromandel, vejo um senhor triste sentado em um dos bancos da praça. Não deixei os alunos perceberem o que olhava, mas aquele senhor ali, não sei, mas tocou meu coração fielmente. Senti algo forte no coração que latejava muito e dizia para ir falar com ele. Não agüentei, chamei meus alunos para irem comigo até o senhor ali sentado. Chegando até ele vi que estava vestido bem precariamente, e aquele olhar de tristeza foi latente aos meus olhos e em meu coração. Lógico que meus alunos não entenderam nada diante de minha atitude. Comecei a falar com o senhor, perguntar sobre sua vida e suas vivências e experiências. Notei que era um andarilho, um bravo homem que saiu de sua cidade, mais ou menos três anos e que queria mudar de vida diante da situação triste que passava naquele lugar. Como estava atrasado para levar meus alunos para a visita, já confirmada para irmos, deparei com o relógio e disse a ele para esperar ali na praça mesmo, que eu voltaria rapidamente e que queria falar com ele mais fielmente. Ele em sua nobreza de humildade disse que sim, esperaria eu estar ali de seu lado para trocar umas palavras com ele. Afirmou ainda que sentia honrado de ter eu, uma pessoa jovem dando ideias a um senhor tão simples como ele. Despedimos dele e saímos em direção ao Asilo. Estranho que aquele nobre senhor não me saia de meus pensamentos, senti que ele era uma boa pessoa que merecia ajuda. Expliquei aos meus alunos a razão que fui atraído por ele. Depois da visita aos nossos queridos senhores da “melhor idade” de Coromandel, retornamos novamente à praça. Mas antes, na instituição, tivemos vários momentos de alegrias e pensamentos de valorização à vida (acontecimentos relatados na parte dois de meu texto).
Chegando à praça vimos o senhor no mesmo lugar. Nesse momento percebi que ele estava com uma ‘sacolinha’ e que guardava apenas um terno de roupa e um cobertor. Falei muito com ele, meus alunos todos sentados a nossa volta, ouvindo minhas perguntas a ele. O que me deixou triste demais foi o fato dele estar com muita fome, mas muita mesmo. Perguntei se ele estava com fome... Ele encheu os olhos de lágrimas e disse que sim, que estava com muita fome. Naquele momento, que já era umas 16h30 min.
Diante dele ali do nosso lado, senti uma pessoa do “nada”, sei lá, senti que o que eu tenho perto dele, é o TUDO e para ele o NADA. As ideias em meu pensamento ficaram latentes diante daquela situação do senhor (contarei detalhadamente na parte dois do meu texto). Falei muito com ele e anotei tudo o que contava pra mim. Depois de nossa grande fala, mandei duas de minhas alunas, comprarem biscoitos e refrigerantes em uma panificadora perto da praça. Entreguei a elas um valor e falei compre e tragam para nós, todos vamos comer aqui na praça juntamente com ele.
Quando faço uma pergunta a ele, qual era a força que ele tinha para continuar com essa vida de cidade em cidade, de luta e busca de querer coisas pequenas: comida digna e lugar de morar... ele responde, tirando de sua “bolsinha’ uma Bíblia Sagrada. Fiquei até espantado, quando ele começou a ler a obra de Deus ali na nossa frente. Surpreso mesmo diante de sua força de vontade, vivendo na rua, de cidade em cidade, mas a sua fé e a sua dignidade estava ali, nítidas em suas atitudes. Persistência total em suas atitudes.
Todos meus alunos presentes ali na praça, comeram o que mandei comprar e tomamos o refrigerante com o nobre senhor, nada pagava o sorriso dele diante de minha atitude e meus alunos. Meus alunos sentados na praça e eu, um professor/jornalista falando com um andarilho e acima de tudo, no centro da cidade e várias pessoas passando e olhando aquilo. Acho que muitos deviam ter falado, esse professor está louco... com alunos e falando com um andarilho? E comendo com ele? Mas como sempre fui uma pessoa de opinião própria, jamais ligo com o que as pessoas pensam. O que estava sentindo mesmo era respeito, e acima de todas as coisas no meu coração, era de ter ajudado aquele senhor a se alimentar dignamente. E assim, despertei nos meus alunos, uma questão de humanidade, de amar ao próximo, independente de questão financeira. Já era tarde, quase 17h, assim, despedimos do nosso “amigo” e marquei mais um encontro com ele, na quarta-feira (02/06) quando levarei a segunda parte dos alunos ao Asilo. Estava atrasado para ir para a minha Faculdade, em outra cidade, saio sempre às 17h. Por isso, saímos rapidamente e o que assinalou naquele momento foi àquela sensação de dever cumprido. Pessoas? Eis o nosso entendimento... Uns possui demais e outros nada! Como ajudar um senhor dessa maneira? Lembrando que o mesmo já se encontrava em minha cidade há mais de vinte dias. Só sei que teremos novo encontro nessa quarta. Terei breve, mais uma parte dessa história, aguardem!