Me Add no Face?
Mas você lê e apaga hein?
Assim como era no princípio, agora e sempre por todos os séculos dos séculos que o mundo se relacionará via redes sociais.
Mas vamos ao hoje. Afinal, seguindo a última tendência o Orkut virou uma rede social estendida na laje, para deitar com a patroa enquanto a criançada brinca na piscina de lona.
O que pega hoje é o Feice, meu. E não é a toa. Segundo o último Dossiê MTV5, para o jovem não estar no Facebook é o equivalente a não existir.
Mas por quê tanto sucesso?
Um cru exemplo de um diálogo mal transcrito do filme “A Rede Social” nos responde bem:
“- Você sabe se fulana namora ou está saindo com alguém?
- Como vou saber? As pessoas não andam por aí com uma placa no pescoço dizendo se estão comprometidas ou não.”
E é daí que o Homem do Ano juntou os dedos em pinça e teve seu estalo.
Melhor que as outras tentativas até então, Mark Zuckerberg se apropriou com maestria do que acontecia analogicamente há séculos, entre tias debruçadas sob janelas de casinhas viradas para o coreto.
Da praça da mais pacata cidade à boate da mais insones das metrópoles, cada um quer saber o que faz o seu círculo social girar. E se sentir parte dele. Para onde foram, o que fazem, com quem se relacionam.
Mas isso tudo você já sabe, não é mesmo? Até o Jornal Hoje deve ter feito uma matéria, logo depois daquele quadro sobre bullying.
O pulo do gato do nosso amigo de Harvard está no como.
O que antes era recebido e repassado via scraps e secretos testmonials hoje é propagado exponencialmente com um único post em um mural. Um misto de megafone e antena, que envia e recebe informações com a facilidade que nenhuma outra rede social conseguiu até então.
Seu diferencial está no quanto ele agrega pessoas e informações direto da fonte, que antes poderiam se perder no caminho de cliques sinuosos até entrar em um perfil.
O Facebook traz a rotina de 500 pessoas para sua página inicial, colocando um holofote no cotidiano. E para melhor ou pior, destacando no centro do palco quem você é.
Mas tanta facilidade traz um porém. Uma rede social baseada no compartilhar jamais estaria imune aos exageros.
A facilidade de sem disparar um único clique poder estar imerso na vida de alguém ou ter alguém mergulhado na sua, imperceptivelmente, inebria. E nos faz esquecer a dimensão da vitrine a qual nos expomos.
O que está postado não volta atrás. Se perde no infinito do cosmos da internet.
Sua imagem fica lá, como um visual que nunca mais poderá ganhar outro corte de cabelo.
E nessas, confunde-se compartilhar o interessante com contar o trivial em seu estado mais tedioso.
São Paulo sempre terá trânsito às 18hs.
Antes do almoço é muito comum ter fome.
Dias tristes fazem parte da nossa vida, assim com dias de chuva fazem parte da semana.
O destaque do UOL é lido por grande parte das pessoas que trabalham com um computador.
Comentários e lembranças antes restritos ao nosso cérebro ou ao colega ao lado pulverizam-se para o mundo do template azul.
O resultado é um bombardeio do óbvio. Uma intimidade forçada como uma foto dos curativos de um pós-operatório, de um prato de miojo instangrado, de caracteres dizendo o quanto chove lá fora.
A rotina escancarada perde todo seu encanto. O charme de poder contar ou convidar quem você quer que faça parte dela. Quem realmente importa entre sua enorme lista de amigos no Face.
Esses dias vi um projeto de um fotógrafo que tirou uma foto por dia, por um ano. Sua ideia era mostrar a beleza da rotina, do engano em acharmos que bons momentos são feitos somente do planejado.
Viver bem também está em um café num dia frio ou um encontro no supermercado com um amigo sumido. Mas garanto que retratar o alívio de ir ao banheiro depois de tomar muita água não fez parte dos seus cliques.