CALDO DE MOCOTÓ COM GOSTO DE CHUMBO
Fazia muito tempo que o nordestino Waldomiro não tomava um caldo de mocotó. No bairro em que morava não conhecia nenhum lugar em que vendesse esta iguaria típica da sua terra natal. Mas também não tinha assim tanta pressa. Não era como mulher grávida quando deseja alguma coisa e tem que satisfazer logo. Portanto, sabia esperar. Um dia encontraria. E este chegou. Por acaso, quando se dirigia ao seu trabalho percebeu uma placa num bar onde estava escrito assim: TEMOS MOCOTÓ. Waldomiro aguçou o seu paladar, porém não entrou logo ali para saciar a sua vontade, pois estava atrasado para o seu serviço. Em outra ocasião, não tinha pressa, mas ao consultar a sua parca carteira surrada percebeu que o dinheiro não dava. Afinal, o pão e leite das crianças, em primeiro lugar. Deixou para outra oportunidade. Quem sabe, no dia do pagamento.
Até que, no dia da sua folga, lembrou do caldo de mocotó e lá foi ele relembrar o seu torrão natal. Tamanha foi a sua frustração quando ao fazer o pedido, o dono do estabelecimento balançou a cabeça negativamente informando que havia acabado aquela iguaria, prmetendo-lhe que no final de semana faria mais.
Chegou em casa e comentou com a sua mulher a sua decepção. Ela tentando satisfazer o desejo do marido deu a seguinte sugestão:
-Ora, Wal, se você está assim com tanta vontade desse mocotó porque não compra os ingredientes que eu preparo aqui e você come até dizer chega e além disso dá pra todos nós, o que você acha?
-Deixa quieto, mulher. O mocotó de casa do norte é mais gostoso!
-Eu sei, é mais gostoso porque é acompanhado de uma pinguinha, pensa que não sei?
-É, pode ser isso também. Mas não esquenta a cabeça, eu não tenho pressa. Outro dia eu vou la.
E não deu outra. Tal dia chegou. Lá se foi Waldomiro degustar o tal mocotó. O local não havia muitos fregueses como das vezes anteriores. Entrou meio desconfiado, como se tivesse acontecido algum imprevisto. Pensando bem, ele estava com um péssimo pressentimento.
O nordestino estava certo com relação ao seu pensamento. Pois após fazer o seu pedido e o mesmo foi colocado sobre o balcão, repentinamente, enquanto o dono do estabelecimento virou as costas, só ouviu uma a frase tão temida:
-"Dedo-duro merece mesmo é chumbo!"
Em seguida dois tiros foram detonados em direção do dono daquele estabelcimento, ao mesmo tempo em que Waldomiro se abaixou e percebendo que o meliante sumiu, não pensou duas vezes. Pernas pra que te quero, ele também deixou aquele local, à proporção que algumas pessoas também apavoradas tentavam se aproximar para bisbilhotar ou prestar algum tipo de socorro.
Ao chegar em casa esbaforido, trêmulo e assustado, a mulher, sem saber de nada até brincou:
-Oxente, Wal, que cara é essa? O mocotó lhe fez mal?
-Antes fizesse, mulher. Vamos rezar e agradecer a Deus porque estou vivo. O dono do bar levou dois tiros e eu estava bem próximo, mas Deus me protegeu. E por favor, não me fale mais em mocotó, nem aqui nem na China!
João Bosco de Andrade Araújo