Psicanálise do “Ser Ambiente”

Inconsciente é o universo o qual nem seu “criador” o conhece completamente. Para Freud o id é onde estão escondidas as pulsões. Pulsar sem limites, sem regras, sem obstáculos. O cuidado com barreira do inconsciente deve ser muito bem trabalhado, organizado e direcionado. Podemos dizer que o id é como as águas das praias de Recife. Suas ondas encantam os olhares dos banhistas, os atraem para seu deleite dentro da água vívida pelo balanço da maré e em frações de milésimos de segundos a pulsão e o ataque. O “id” pode arrancar a sua perna, bem como o “tubarão” a sua alma psíquica. Cabe a reflexão sobre qual elemento devemos cuidar primeiro: da perna ou da alma psíquica?

O caos que o id pode provocar se assemelha a um ditado popular “após a tempestade vem a bonança” ou psicanaliticamente, falando, “após a bonança pode vir a tempestade”. Tempestade essa que o inconsciente maturou durante um ano, uma vida ou em um instante qualquer. Proporcionando um desabrochar fervoroso e incontrolável diante da explosão do vulcão inativo e quase dado por morto. De repente e sem avisar a fumaça, o enxofre, o magma e todos os elementos em uma velocidade incontrolada sobem pela chaminé do inconsciente proporcionando ao id uma liberdade caótica e tempestiva na vida, no leito da morte ou da morte.

O ego humano pensa ser maior que a força da natureza do id. Tenta barra as leis naturais das forças da natureza sejam elas físicas, químicas, humanas e quem sabe sobrenaturais. A pulsão é inibida pelo consciente ou pelo pré-consciente tal qual a velocidade das águas de um rio após uma tempestade.

Não, não mesmo!

A força da natureza ainda não foi vencida pela força do homem. Pode ser que ela fique enfraquecida e diminua os impactos das margens dos rios ou dá ética social. A moral se transforma em muralhas de pedras que barram a força das águas nas praias de Fortaleza ou Rio do Janeiro. Mas o inconsciente em sua ressacada anual ou casual grita e se joga nos calçadões das cidades, assustando o próprio eu e o próprio tu. Será uma manifestação natural, social ou psico/pseudo-natural?

Não precisa desespero!

O superego, o engenheiro, o mestre de obra e o gari limpam toda a sujeira do id. Ou não limpam? Simplesmente escondem e camuflam para que todos vejam uma paisagem “harmônica”, bela, e segura para o passeio e banho nas águas calmas de uma maré “controlada” pelos valores familiares, sociais e culturais.

Não seria mais fácil deixar a natureza viver livre e seguir seu curso natural? Temos realmente que barrar as pulsões? Devemos esconder as frustrações em ilhas imersas?

Podemos conceituar o inconsciente como dunas móveis que embelezam a natureza pela liberdade de pensar e de agir segundo seu desejo. As dunas não se preocupam com os conceitos ou pré-conceitos criados para barrá-las. Elas fazem, agem, pensam, criam, inovam e renovam a paisagem da vida que é simples de viver, mas perigosa para sobreviver.

O ego é uma lua que comanda a maré fazendo-a ir e vir no seu limite e em seu controle. Porém não admite uma superproteção. É uma mãe controladora que impõe seu limite. É uma força natural frágil que precisa se aceitar para se auto-comandar. O id de Recife, o ego de Fortaleza ou o superego do Rio de Janeiro precisam ser estudados, pesquisados e “contemporaneizados”. Se Freud estivesse vivo ele, em matéria, provavelmente diria que o id precisa viver o mundo atual. Mundo esse em que as pessoas não sentam à mesa para o jantar em família ou desejam uma boa noite para os filhos. Em meio às chuvas de verão no semi-árido nordestino tomaríamos banhos nus nas ruas das selvas de pedras criadas pela moral que outrora imoral sucumbe o ser e o açoita em lajedos esquentados pelo chicote “sol-feitor”, o desejo, a frustração, a repressão e a depressão psíquica e física onde se vê ao longe um cacto sobrevivente da seca e do id que aflora sobrepondo-se a sua forma psíquica do “ser ambiente”.

Djailson Malheiro
Enviado por Djailson Malheiro em 01/06/2011
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