Tres minutos e meio para morrer
Nesta semana saíram os relatórios das caixas pretas, com informações sobre a queda do avião Airbus A330 da Air France, no vôo 447, que viajava do Brasil, Rio de janeiro com destino a Paris, na França e caiu no oceano, matando 228 pessoas, em 2009.
Mas houve um tempo em que a morte não existia e haverá um tempo em que a morte não mais existirá, portanto, a morte não é nada.
Um dos relatos foi o de que a aeronave levou três minutos e meio para se espatifar na água a uma velocidade de duzentos kilometros por hora.
Quem já viajou de avião sabe que quando entra na aeronave e ela começa a taxiar na pista, para a decolagem, nada mais a fazer do que colocar a vida “nas mãos de Deus”. Quanto aos que não acreditam em Deus, bem, esses não entregam a vida a ninguém.
Mas, quanto ao homem, houve um tempo em que não existiu e haverá mesmo um tempo em que não existirá, portanto, o homem não é nada. Na verdade, falando sobre isso a santa bíblia diz que somos pó e ao pó voltamos. Somos como a neblina que é formada pela manhã e à tarde nos dissipamos ou como o vento que passa, como a brisa da manhã que se desfaz.
Nós fomos criados com cinco sentidos, muito embora alguns insistam em que as mulheres tenham um sexto sentido, talvez queiram se referir ao fato de que elas são mais observadoras que os homens, mas a verdade é que não possuímos um sexto, só cinco sentidos. Portanto, não temos a capacidade de prever o momento seguinte, o que acontecerá amanhã, o futuro.
Na última viagem que fiz ao Piauí, minha terra natal, em Janeiro deste ano, tive medo e não queria ir, porque teria que ir de avião até Brasília e de lá seguiríamos de carro até a capital piauiense, Teresina. Superei o medo e fui. O medo foi duplo, primeiro o do avião e depois com o meu irmão dirigindo o seu carrão e querendo ir na mesma velocidade do avião. Houve um momento em que eu tirei uma fotografia do painel e o velocímetro estava marcando cento e sessenta kilometros por hora. Mas, segundo ele, o carro era bem seguro. Mesmo assim pedi que ele fosse mais devagar e ele atendeu!
Quando entramos no estado do Piauí, parando em um posto de gasolina, perguntamos ao frentista como eram as condições daquela estrada, ao que ele nos respondeu que era muito boa, havia sido recapeada recentemente, mas que teríamos que cuidar bem com os animais na pista, pois não havia um controle ou fiscalização e eles causavam muitos acidentes.
Enquanto trafegávamos numa velocidade média de cento e trinta a cento e quarenta por hora passou por nós uma hilux preta, da Toyota, provavelmente a uns cento e oitenta kilometros por hora, pois que tivemos a impressão de que estávamos parados...
Depois de viajarmos por uns cinqüenta kilometros alguns veículos no sentido contrário nos davam sinais de luz, indicando que algum acidente havia acontecido e assim diminuímos a velocidade. Quando passamos pelo local era aquela hilux preta que nos havia ultrapassado e tinha se chocado contra uma árvore, ali estava um motorista morto. Um homem chorava e dizia: Matei o meu irmão, matei o meu irmão. Então fomos entender o que aconteceu. Ele disse que havia comprado um matador de moscas elétrico e o irmão vinha brincado de matar mosquitos no painel do carro, perdeu a direção, bateu na árvore e agora estava ali, morto. Nós não conhecemos o momento seguinte, o futuro. Aquele moço jamais imaginou que aquela seria a última viagem de sua vida, que na metade dela se encontraria com a morte e cessariam as suas oportunidades!
Mas, pense! Houve um tempo em que o carro não existia e haverá um tempo em que não existirá, logo o carro não é nada.
O relatório sobre o vôo 447 diz que os passageiros provavelmente não perceberam que o avião estava caindo, mas isso eles não sabem e nós nunca saberemos. Era noite, a uma altura de dez a onze mil metros, tudo escuro, apenas o frio na barriga, daqueles que temos num elevador, quando sobe ou desce. Ninguém via a paisagem, a lua, as estrelas ou o mar, calmo e sereno, que os aguardava para a morte.
Nas duas extremidades do itinerário, no Rio de janeiro, pessoas que ficaram saudosas e ansiosas por notícias dos seus já em terra firme, no seu destino e em Paris outros também ansiosos pela chegada de familiares, parentes ou amigos. Nenhuma das expectativas se confirmaram. No meio do caminho encontraram-se com a morte, cessaram as suas oportunidades e nunca mais voltaram ou chegaram.
Mas podemos imaginar que na aeronave, uns liam nos seus laptops, notícias na internet, outros estavam ao celular e falavam com seus amores; Filhos falavam com os pais; Funcionários conversavam com os patrões e recebiam instruções sobre os negócios que fariam no dia seguinte em Paris, ganhos, lucros; outros ainda com mãos suadas oravam insistentemente para que aquelas horas passassem logo e chegassem em paz ao seu destino; Dois estavam no banheiro, tentando dispersar e disfarçar a fumaça do cigarro. Uma mulher vaidosa retocava a maquiagem. A aeromoça passando e oferecendo guloseimas e bebidas, muitos aceitando outros rejeitando, enquanto tantos outros, tranquilos, apenas dormiam, roncando e babando. Havia aqueles que, por fobias tantas, levantavam e sentavam a cada cinco minutos e os que já desconfiados das máquinas voadoras, comentavam com a pessoa do lado: Que coisa, né, como pode um troço deste tamanho, com toneladas, voar?... E se cair então?! Não escapa ninguém!! Um garoto brincava de jogos no seu Psp, enquanto uma menina passava batom nos lábios da sua avó. Um bebê dormia profundamente, ainda com a boca no seio da mãe, que o amamentava. O comandante tirava uma soneca e os copilotos tentavam de todas as formas estabilizar a aeronave, que teimava em não obedecer aos comandos automáticos ou manuais. Um até chega a dizer: “Não estou entendendo mais nada!”
Uma coisa é certa, nunca aquelas pessoas saberiam ou imaginariam que estavam fazendo a sua última viagem!
Mas, houve um tempo em que a vida não existia e haverá um tempo em que a vida não mais existirá, portanto, a vida não é nada.
Qual é o valor que eu tenho dado as coisas e qual a ordem delas na minha vida? Qual é o valor da minha formação, profissão, beleza, familiares, parentes, amigos, bens materiais? Houve um tempo em que nada disso existia e haverá um tempo em que não mais existirão, logo, tudo isso não é nada!
Agora, se eu penso em um Deus todo poderoso: Houve um tempo (Eternidade) em que Ele existiu e haverá um tempo (Eternidade) em que sempre existirá, logo, Ele sim, Deus, é tudo, Ele é uma realidade presente e futura. E na ordem das coisas, caso eu ponha em primeiro lugar “o reino de Deus e a Sua justiça”, todas as outras coisas se tornam importantes e mais vida de alta qualidade me é acrescentada. Foi o que prometeu o próprio filho de Deus, Jesus Cristo, quando de sua vinda aqui ao planeta terra, há dois mil anos atrás. Caso você creia nisso, saberá o que fazer, se souber que tem apenas três minutos e meio para morrer.
Se a pessoa tem três minutos e meio para morrer e tem essa informação é uma coisa, mas, se não sabe, é outra, portanto, isso é relativo, e, claro, a pergunta do título é apenas retórica.
Camilo Martins é Poeta, Escritor, Teólogo e Jornalista residente em Artur Nogueira, SP. É presidente da Academia Nogueirense de Letras – ANL, Presidente da Academia de Letras do Brasil/Região Metropolitana de Campinas – ALB/RMC e membro da Academia Limeirense de Letras – ALLe.