O PODER FORTE DA LEITURA
Uma jovem poetisa alemã, considerada como uma das mais notáveis, Uljana Wolf, diz que ”Enquanto a prosa é uma imagem da realidade, a poesia põe em dúvida essa imagem e indaga no oculto,no tapado. Retira da realidade e o revela”. Ao poeta lhe é dado o privilégio de extrapolar a realidade e à sua imaginação é permitido fazer mergulhos profundos e voar à altura incalculável. Questiono como, quando e por que surgem os poetas, os escritores e, também, como se adquire o gosto pela leitura. Incrível como pessoas que possuem nível educacional e financeiros altos revelam não suportar fazer leituras porque é algo parado. Desde quando a leitura é algo passivo?
Escuto projetos que fazem a criança tomar gosto pela leitura em fase cada vez cedo. Há psicopedagogos que orientam para as crianças serem estimuladas desde os seis meses para a leitura, sugerindo que sejam mostradas gravuras para se tomar gosto pelo que é visto e falado. Assisti um programa em que foi comentado sobre um projeto que está sendo desenvolvido em Arapiraca-Al, com mães que são costureiras e estão elaborando livros com bichos costurados; é chamado “livro de pano”, com a função de ensinar a criança na faixa de cinco anos gostar de leitura, através das histórias contadas.
É sabido que muita coisa se sedimenta na infância, inclusive o prazer pela leitura. O que se escolhe para ler tem muito a ver com a história, o interesse e a fase que se está vivendo. A preferência pode estar ligada à ficção ou não. Raramente nos detemos para pensar porque selecionamos o que lemos e tem tudo a ver , tal como selecionamos um parceiro, ou seja, com as identificações que fomos construindo ao longo da vida e que apresentaram traços marcantes para a nossa forma de perceber o mundo.
A leitura desperta novos significados, produz mudanças e pode induzir a novos comportamentos.Tem muito poder na forma de se perceber o mundo. Recordo, nesse sentido, o livro”O Apanhador dos campos de centeio",de J.D.Salinger.Narra a história de um adolescente rico, desajustado,depressivo, angustiado, vítima do capitalismo dos Estados Unidos.É uma tentativa de encontrar a misericórdia. Há alguns anos ele era proibido entrar em alguns países da Europa, por conta das suas influências maléficas que poderiam produzir.Um outro de Irving Wallace “Os sete minutos”, tem como temática um crime de uma jovem, incitado pela leitura do livro. Já Goethe, ao publicar “Os sofrimentos do jovem Werter”, um romance que trata de uma paixão devastadora,teve repercussões inimagináveis. A literatura tem o poder de influenciar a sociedade e, foi nessa época, que vários suicídios foram cometidos e atribuídos à leitura da obra, publicado na Alemanha em 1774 e, no Brasil, em 2001.
Segundo Humberto Eco, “Todo texto é uma máquina preguiçosa que interpela o leitor para que o ponha em funcionamento, para que preencha seus buracos”, ou seja, o leitor poderá dar sua interpretação, pontuar dados mais significativos e fazer uma apreciação de acordo com o que pensa, conhece, espera e encontra.
Dizem os literatos que há três sentidos no processo de leitura: o do autor, o do leitor e o que o próprio texto sugere, de forma que fica sempre algo a partir do que se lê, porque se pode muito bem nas entrelinhas ir além do que está escrito.