Vou te dar mil motivos para vir a João Pessoa. Venha passear, venha entregar tua alma, talvez até o coração, e correrás o perigo de aqui ficar. Não serás o primeiro, certamente não o último. É paixão à primeira visão.
Por ser uma das primeiras cidades brasileiras, podemos nos orgulhar de termos um acêrvo barroco de muita importância. São igrejas, são conventos, são casarios bordando o centro antigo que se debruça sobre o rio Sanhauá. A visão é de paralisar. O rio corre manso, pesado em meio ao manguezal. Vai lambendo as margens cobertas de sirís e caranguejos. Num passeio de barco, descendo o rio, poderás ver a cidade pelas entranhas. A silhueta das igregas invade o céu de um azul, azul. Vamos à igreja São Francisco, com seu pátio imponente coberto de azulejos portugueses, que abriga o mais rico e precioso púlpito do Brasil. Lá no alto, como a contemplar a paisagem, um galo portugues gira ao sabor dos ventos. É um passeio à nossa história com direito a cheiro de mirra do altar lateral da nave. O côro austero esconde um horror. Lá foi julgada e condenada a portuguesa Banca Dias pela Santa Inquisição (Santa...) Seu crime: ser judia.
Continuemos nosso passeio. Estamos agora no poético Parque Arruda Câmara, carinhosamente chamado de Bica, por causa da bica de bronze reluzente existente em meio à mata centenária que cobre todo o parque. Lá poderemos ver muitos representantes da fauna e flora nordestinos. Poderemos até, dar uma volta na mata num jeitoso trenzinho, ou pedalar num lago coberto de Vitórias Régias.
No centro da cidade, uma lagoa. É o Parque Solon de Lucena. Uma obra do paisagista Burle Max, é o ponto de encontro dos pessoenses. Cercada por majestosas palmeiras exibe no seu centro uma fonte luminosa. Garças brancas sempre presentes, são um presente à parte.Nos finais de semana, um hábido de minha infância voltou a resurgir. As famílias passeiam ao redor da lagoa ao som de músicas, geralmente orquestradas.
Agora falemos de nossa mais preciosa jóia. A cidade tem em seu centro, um pedaço da mata atlântica que é nosso pulmão e nosso coração. E que nome lindo...Mata do Buraquinho. Ternura exposta, amor explícito...São arvores centenárias que se viram cercadas pela cidade que crescia à sua volta e que foram protegidas pelos pessoenses, numa prova de respeito à Mãe Natureza. Não é à toa que ostentamos orgulhosamente o título de segunda cidade mais verde do mundo.
A indecisão acontece...ir para o sul, ou para o norte. Bem, vamos ao sul. É lá que estão as mais belas praias. A divisão acontece tendo como marco a magnífica Ponta do Cabo Branco que avança no oceano como para beijar nossos irmãos africanos.
A primeira praia que encontramos é a de Seixas, cercada por falésias, é dela a visão que temos quando vamos ao Cabo Branco. Indo mais para o sul encontramos a praia da Penha, com seu santuário, seus ex-votos, sua escada para os devotos se penitenciarem. Não deixem de dar uma paradinha no bar do Bigode, um churrasqueiro de primeira, dono de uma vista de cartão postal, vista de sua barraca. De lá, vemos uma praia de pescadores. Mas, vamos em frente...Chegamos à praia do Sol. Quase deserta, possui as falésias mais coloridas da região. Suas cores vão do rosa ao marrom, passando pelo roxo, numa mistura que encanta.
Vamos agora à praia de Gramame. O rio do mesmo nome emprestou seu nome á praia. Até casar com o mar o rio toma uma cor esverdeada, por causa do mangue que o cerca e lá vem ele escorregando e trazendo centenas de folhinhas de mangue verde escuro. A chegada à praia assusta de tão bela.
Sigamos... Não se deixe anestesiar, ainda temos muito a percorrer. Chegamos a Coqueirinho. Nessa praia, seguimos uma trilha bem fechada de coqueiros encurvados pelo vento. Uma aventura que é brindada com um prêmio. Um belo recanto aparece. São cadeiras de junco, são espriguiçadeiras, são redes à beira-mar. Um paraíso com direito a canyons e batidas de cajarana, de graviola, de genipapo...tudo com o intuído de apaixoná-lo. Resista, é cêdo.
Agora é Jacumã, uma cidadezinha voltada ao turismo, com seu comércio de artigos praianos e seus restaurantes. Um prato cheio para a juventude. Mas, não é isso que buscamos, buscamos a natureza pura, sem lapidação, sem maquiagem. Tabatinga presente.Suas falésias, por brincadeira da natureza, invadem a praia e tomam feitios de enormes patas de elefante a caminhar para o mar.
Chegamos a Tambaba, a conhecida praia de nudismo. Conhecida internacionalmente pela sua beleza selvagem, é uma pequena praia com picinas que se formam ao descer da maré. Alí, o famoso coqueirinho, certamente o mais fotografado do mundo, resiste ao mar, no alto de uma rocha. Bem, não poderíamos deixar de fora a praia Bela, que faz juz ao nome. Lá somos servidos em mesinhas dentro da agua. Camarões rosadinhos, lagostas grelhadas e um afrodizíaco caldo de aratú, para os mais necessitados , desfilam nas bandejas dos garções.
Poderíamos encerrar por aqui. Não é meu intento intoxicá-los de beleza, mas e o norte... Onde tenho a sorte de morar bem juntinho ao mar. Aqui temos praias urbanas...Tambaú, Manaíra, Bessa ( a minha), Poço, Camboinha e Formosa. Para ser sincera, ficam longe das belezas das praias do sul. Afinal, são praias muito habitadas...e onde o bicho homem chega, já viu... Mas, se não compararmos, acharemos as nossas muito bonitas. Quero ressaltar que é aqui no Bessa onde existe um projeto de proteção ao nascimento de tartaruguinhas. Com um pouco de sorte, poderemos presenciar esse milagre.
Poderia encerrar com o famoso por do sol do Jacaré e seu bolero de Ravel, mas como acredito que meus poucos leitores são parecidos comigo, sugiro fechar esse passeio com um brinde na Bar do poeta sem pernas, em Cabedelo. Nada igual.
Encerro agradecendo ao nosso poeta maior, Jomar Souto, meu querido amigo-mestre-irmão por ter batizado nossa João Pessoa de Capital das Acácias.
Que lugar melhor para me servir de berço, para acolher essa aprendiz de poeta, de alma irrequieta, eternamente apaixonada...
Obrigada Mãe Natureza!