Eu tenho pena de você...
Sábado passado fizemos o lançamento do livro “Confissões esparsas de um rábula”, do mestre Arnaud Costa, na cidade Itabaiana do Norte. Encontrei com um velho amigo, a quem fiz o convite para o lançamento da obra. Ele pediu mil desculpas, mas foi sincero: “Não posso ir, porque trabalho na Prefeitura e certamente vão dizer à prefeita que estive numa festa do 40, posso perder o emprego”. A princípio, fiquei sem saber o que diabo vem a ser esse 40 que tanto medo e raiva provoca na chefona da Prefeitura. Depois ficou claro que se trata do lado oposicionista, simbolizado pelo número 40, do Partido Socialista Brasileiro. É a exposição às claras das ideias preconcebidas, arcaicas e estúpidas de uma elitezinha provinciada que está levando minha cidade ao buraco profundo do atraso.
Meu pai Arnaud Costa, o homenageado da noite, foi advogado da senhora dona prefeita e seu finado marido, quando o casal esteve envolvido em tentativa de assassinato de juiz da Comarca há umas décadas passadas. O juiz de Pilar decretou a prisão preventiva da atual prefeita e seu cônjuge, prefeito na época. Meu pai quebrou lanças, fez de tudo que esteve ao seu alcance e conseguiu anular a decisão judicial. Depois, continuou as demandas judiciais em defesa do casal indiciado. Hoje, um servidor municipal diz temer a reação da prefeita se ela souber que o rapaz compareceu a uma homenagem ao seu antigo defensor.
Mas eu acho que se trata de pavor injustificado desse tímido servidor. A prefeita não tem porque odiar o mestre Arnaud Costa que foi seu aliado incondicional. O causídico Arnaud Costa sempre foi um demandista democrático do progresso e pluralidade moral. Não tem inimigos em sua terra ou em parte alguma. A obtusidade politiqueira do nosso interior é que concebe esse tipo de fraqueza moral.
Mesmo diante de situações ridículas desse tipo, não me deixo iludir pelo catastrofismo do “tudo está perdido”. Tampouco assevero a opinião de certa maioria de itabaianenses que consideram a situação política da minha cidade um caso perdido. Na eventualidade da prefeita do lugar conseguir achar a compostura perdida, ainda terá tempo de se reabilitar perante seus munícipes, ser mais humilde, frequentar mais a comunidade e liberar os funcionários municipais para que livremente possam viver suas vidas interioranas, sem medo de dar um abraço em um amigo, só porque esse companheiro não vota na senhora prefeita.
Penso até que a prefeita não compareceu ao lançamento do livro de Arnaud Costa por motivo de doença ou choque de agenda. Tanto que enviou sua Secretária, nossa estimada amiga professora Terezinha Queiroga, para dar um abraço no seu conterrâneo. Terezinha demonstrou sua amizade com um forte amplexo no autor de “Confissões esparsas de um rábula”, sem medo de represálias, o que prova que aquele amigo paranóico sofreu de graça. Portanto, meu compadre medroso, eu tenho pena de você, porque sua prisão é interior, vem de dentro, seus medos são construídos pela sua falta de atitude em se construir como pessoa humana independente, gozando na plenitude dos seus direitos civis e políticos. Não culpe a prefeita por você não conseguir ser protagonista de sua própria vida.
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