A Marília, no seu dia natalício
Já passaram dois dias. Por isso peço perdão. Dois dias em que me acompanhaste para todo o lado. Mais do que habitualmente. Pois tinha palavras ansiosas. Palavras irrequietas. Inconformadas. Desejosas de fazerem esta viajem para te alcançar. Peço perdão a ti e a elas que se torturaram em círculos no cérebro procurando uma saída, uma fuga, uma porta até esse lado do oceano, sem descanso, sem sossego.
E de tanto se contorcer e saltitar ficaram um pouco zonzas e sem graça. Tímidas e nervosas. Solitárias.
Procurei ajuda. E surpreendentemente encontrei palavras amigas. Palavras de um grande mestre. Palavras que resolvi pedir emprestadas para dar mais força às minhas, tão fracas.
A assim, de Bocage, deixo-te ficar este soneto.
A MARÍLIA, NO SEU DIA NATALÍCIO
Quis, Marília gentil, cantar teu dia,
Teu dia grato a Amor, grato à ventura,
Pintar-te a graça, o riso, a formosura,
Princípios de inefável simpatia:
Ao pai da claridade e da harmonia
Roguei canções de singular brandura;
Mas sempre mais e mais a mente escura
Num túmulo de ideias se perdia:
Eis que o deus, que da aurora aviva os lumes
Me diz:”Porque tens nome entre os humanos,
Objectos divinais cantar presumes?
Subjuga dentro d’alma os sons profanos;
Muda em culto o louvor; celebrem numes,
Mortais adorem de Marília os anos.”
Com toda a minha amizade e carinho, parabéns pelo teu aniversário, Marília Paixão! Beijos mil!