Roubo! Que roubo?
Naquele momento, senhor Furtado sentiu-se livre. Não, ele não se divorciou, apenas desceu do ônibus e, como estava faminto, fez um lanche. Caminhava pela cidade quando foi abordado por um rapaz muito prestativo que disse:
_ Você vai ser roubado!
Como se já não bastassem os problemas do passado e do presente, agora tinha problemas do futuro a resolver.
_ Isso é mentira! E como é que você sabe? Disse o senhor Furtado assustado.
_ Ahh, meu amigo, na verdade ninguém sabe, aliás se alguém soubesse que ia ser roubado, ia logo tomar as providências e o incidente seria evitado...
Furtado interrompeu:
_ Ta, e daí?
_ E daí, daí que você é um homem de sorte, é só você deixar comigo seu dinheiro que depois eu te devolvo.
Furtado raciocinou logicamente: Pensamento 1: " este rapaz pode estar tentando me roubar". Pensamento 2: "pode ser que eu seja roubado mais tarde". Pensamento 3: " Ser roubado antes ou depois não muda muita coisa, mas é melhor que seja depois". Pensamento 4: "Se ele fala a verdade posso pegar tudo de novo depois". Pensamento 5: "Se eu tivesse vindo de carro nada disso estaria acontecendo".
O solidário disse: _ E aí, topa?
Ele lentamente abriu sua carteira, tirou todo o dinheiro ( o troco da lanchonete) e entregou ao rapaz. Disse:
_ Só me deixe seu telefone!
_Anota aí, é ...
Onze e cinqüenta e nove e o cidadão esperava. Meia noite. O dia tinha terminado e nenhum roubo (quer dizer, Furtado não tinha sido roubado). "Nenhum roubo, nenhum roubo! O que será que aconteceu?” Vasculhou os bolsos, a casa e até o cofre que estava vazio e nada. Tudo estava perfeitamente em seu lugar. "Será que já me roubaram e não percebi?" Pôs-se a pensar: "talvez o posto de gasolina!" Mas há tempo o coitado não usava o carro porque o tanque estava seco (imaginem!!! Ele tinha esperança que a gasosa ia baixar de preço!). "Talvez a passagem de ônibus" é, tinha lógica, ele havia mesmo pego um ônibus, mas podia não ser, afinal, é um preço justo tendo em vista que Curitiba tem o melhor sistema de transporte do país com várias linhas (evitando-se assim a lotação), horários fixos, gravações que informam o local exato em que você está, lugares preferenciais para gestantes, idosos e deficientes, sem falar que o povo do ônibus é extremamente higiênico e educado.
_ Quero aquele sanduíche da foto.
_ Só pegar a fichinha no caixa!
Ele pagou e esperou o seu pedido. Sua fome era grande. O sanduíche era pequeno. Grande foi a sua decepção. Pequena foi a explicação:
_ É ilustrativa! A foto era ilustrativa, sabe aquelas imagens que parecem maiores e que só de olhar dão água na boca, então, ilustrativas! Mas aquilo não era roubo, só compra quem quer! Pensava em tudo. As contas de água que o afogavam; as contas do telefone, nem se fala (literalmente); o preço do gás, um estouro. Nessas circunstâncias nada passava em branco, até o relógio era ladrão porque roubava o tempo.
Como não encontrava roubos, além dos comuns, telefonou:
_ Ninguém me roubou! Seu mentiroso...
_ Eu te roubei!
Tututututu ...
Furtado desligou o telefone na cara dele (sabe como é, com estas tarifas temos que ser breves). Mas o senhor Furtado nem tentou encontrar o sujeito. Ele já estava acostumado a se conformar com pequenos roubos.