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Posso te conhecer?

- Vou parar do lado dele e dizer: Eu quero lhe conhecer!
- E se ele disser que não quer?
- Aí eu pergunto se ele é gay...
      Meu olhar vira-lata não resistiu e busquei, discretamente, as figuras que entabulavam essa animada conversa na escada rolante de um dos shoppings da cidade de Maceió, no começo da noite de uma sexta-feira. Meu olhar vira-lata quase saiu da órbita quando percebeu que eram meninas entre onze e treze anos, magricelas, seios impúberes mas parecendo saídas de um daqueles desfiles caricatos, instaladas em saltos impossíveis, em modelitos de gosto, a meu ver, pra lá de duvidoso.
     As meninas seguiram “a caça”  do possível pretendente. Pensei comigo que eram muito novinhas para já estarem agindo como mulheres adultas, donas dos seus narizes, que poderiam ser diretas e até vulgares na abordagem de um homem, pois isso é escolha. Fiquei com pena também, pois pensei que talvez elas nunca soubessem o que é de fato a sedução de um olhar, de um sorriso que nega mas convida, da espera ansiosa pelo primeiro contato físico, pelo primeiro beijo.
     Fique bem à vontade para achar que sou careta, démodé, ultrapassada. Não sou, mas certas coisas ainda me deixam desconcertada. Eu sei que desde que “o mundo é mundo” homens e mulheres se interessam uns pelos outros, se apaixonam, se acasalam mas certas “abordagens”, certos ritos da “paquera moderna” não se identificam comigo, pois sou do tipo que acha que “envolvimento” exige mais que um “posso te conhecer”.
     Lembrei de uma conversa que tive com umas amigas a partir de um episódio que vivemos com muito bom humor. Elas e eu estávamos aproveitando nosso momento de folga depois de uns dias de exaustivo trabalho durante um evento numa cidade belíssima e resolvemos, ao contrário do restante do grupo que se instalou num bar para aliviar as tensões, nos misturar aos turistas, dar uma volta na badalada avenida cheia de restaurantes, bares, boates, antiquários, galerias de arte.O lugar era mesmo uma festa para os meus olhos curiosos, atentos aos detalhes, as pessoas que iam e vinham animadas.
      Conversávamos sobre o que chamava nossa atenção. Em frente a um lugar que identificamos como um “point” da juventude baladeira, pois estava lotado, a música de boa qualidade atraía e a calçada estava tomada por grupos de moças e rapazes bonitos, em conversas animadas.Com alguma dificuldade íamos passando quando um rapaz de aparentemente 25 ou 27 anos toca no meu ombro e diz: ­- Posso te conhecer?
      Depois de alguns segundos para entender que era comigo, caí na gargalhada! Minhas amigas literalmente me arrastaram dali querendo saber por que eu reagira daquela maneira tão maluca...Rir na “cara” de alguém que não se conhece era, no mínimo uma atitude de risco.
      Ainda rindo, tentei me explicar: - “Desculpem, ‘posso te conhecer’ não é exatamente um linguajar da minha geração...Ri porque jamais me imaginei ouvindo alguém me abordando assim.”
      A conversa continuou por aí e não serei hipócrita, menos ainda irei advogar moralismo fora de hora. Para uma mulher beirando os 48 anos, sem nenhuma falsa modéstia, ouvir isso de um garotão é envaidecedor porém sou de uma geração que certamente viveu a paquera com outros elementos e que mesmo hoje, se fosse uma mulher que estivesse disponível, esperaria mais de um homem do que um “posso te conhecer?”
     Nem faço ideia do que se passou na cabeça daquele rapaz ao ter como resposta ao seu “posso te conhecer ?” o meu ataque de riso, atitude que reconheço despropositada e deselegante.Quem sabe pensou duas vezes para dizer isso a mais alguém, naquela noite.
    Pediria desculpas, se pudesse, mas lhe diria que há mulheres que não se dão “a conhecer” assim, no varejo. Há mulheres que fazem questão de se relacionar bem com quem se envolvem afetivamente, que sabem do valor do cavalheirismo, da atenção, da delicadeza, que querem seduzir mas querem mais ainda ser seduzidas, conquistadas, amadas em sua inteireza.
    Nem precisa me lembrar que penso assim porque sou romântica. O “posso te conhecer?” como estratégia de paquera pode ser moderno, descolado, desejado por muitas. "Ficar" com vários numa balada, beijar outros tantos, pode ser estimulante, quem sabe o termômetro para dizer que uma menina, uma mulher é a tal, mas se ficar só nisso ela certamente não experimentará a sensação única de perceber o afeto se construindo aos poucos, pela admiração do convívio, pela troca amorosa da cumplicidade.
      Não aprenderá o quanto é maravilhosa a sensação que é ser esperada, querida, amada, desejada com muita paixão, mas também com a delicadeza que só um homem que se dispõe a querer mais que um fortuito “posso te conhecer ?” pode proporcionar.