Hoje eu chorei.
Simplesmente queria poder voltar ao tempo. Poder reviver aquele momento. O momento que fez meu coração sentir a mais pura felicidade. Queria voltar, mesmo que isso me custasse a dor da despedida. Sofrer tudo o que sofri de novo quando você partiu não seria tão bom quanto vê-lo ali encima, tão belo, tão feliz, cantando como um anjo. Acho que sou a única que consegue ver a suas enormes asas brancas, e talvez um pedaço da tua auréola. Mas o seu brilho é inegável.
As pessoas me julgam quando eu digo que te amo. Seria errado amar? Seria errado sonhar? Eu não sei, talvez um dia saiba. Mas das duas vezes que te vi, eu te senti. Isso foi o mais importante. Toda a espera por aquele dia simplesmente valeu a pena. As seis árduas horas em pé na fila da entrada não me custaram nada. Quando eu tinha quatorze anos quando eu me apaixonei por você. Quando eu te vi pela primeira vez. Nossa... Você era tão diferente...
Tinha cabelos ondulados e aparelho nos dentes. Estava um pouquinho acima do peso, e as pessoas ficavam falando que você era vesgo. Mas eu te amava, isso era o que importava. E o bom daquela época era que você não era tão famoso. Aí era mais fácil te amar. As pessoas me criticavam menos. E eu não tinha que te dividir com muitas. Eram poucas. E eu nem estava tão ansiosa para te ver. Mas quando eu peguei aquele ingresso, eu senti uma vontade imensa de chorar e rir ao mesmo tempo. Era tão bom. Então chegou o dia. Era vinte e oito de junho de dois mil e nove. Eu fui te ver, aqui na minha cidade. Se me pedirem hoje se eu tenho coragem de voltar ao Clube Pinheiros, eu certamente responderei que não. Seria muito pra eu chegar lá, depois de tudo o que eu sofri. Passei o restante de dois mil e nove e dois mil e dez inteiro te amando e te esperando, chorando porque precisava te ver de novo. Então Deus me deu o que eu precisava. O segundo show. Foi dia dezoito de março de dois mil e onze, em Francisco Beltrão. Quando eu soube não tive muita fé que iria, mas Deus me mostrou que eu era capaz. Eu fui feliz mais uma vez. Mas você não era mais o mesmo. Tirou o aparelho dos dentes, emagreceu um pouco e passou a usar o cabelo arrepiado, que o torna ainda mais perfeito. Eu fiquei mais perto de você esse dia, depois que enfrentei às seis horas de fila para poder entrar no estádio Anilado. Ao contrário daquela época, essa vez eu tirei fotos, gravei vídeos, levei presentes pra você. Joguei no palco o meu ursinho de pelúcia preferido, a carta de cinco metros que demorei três meses para fazer e o meu cartaz. Também tirei foto dos caminhões da sua equipe. Foi maravilhoso. Mas eu chorei porque mais uma vez você se foi. Isso sempre irá acontecer, eu tenho que me acostumar. Mas nunca mais vou me debruçar novamente na vã que você estava quando tinha saído do estádio e indo a direção ao Hotel. Ela tinha vidros blindados, mas era você. Eu toquei o vidro, mas tenho certeza que foi em vão. Saiba, você que está lendo, que essas são as minhas lembranças. E eu acabo agora de derramar junto com minhas palavras as lágrimas do meu coração.