Mentira tem pernas curtas

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Hoje bem cedinho, logo ao acordar (não tive nem tempo de tirar as remelas do olho), fui tomado por uma dor tremenda ao descobrir que me enganaram.

'Como pode!', pensava, reiteradamente, depois de descobrir, por acaso (normalmente é assim que se descobrem as traições e as mentiras, não é mesmo?), que uma crônica atribuída a Luis Fernando Verissimo – sem acento no Verissimo, a pedido de um orkuteiro, era uma farsa.

Nos comentários doutra comunidade também destinada ao escritor, outro membro ainda teve a coragem de sentenciar, dilacerando meu já sôfrego coração: 'O que faltou o fulano dizer é que não só esse, mas TODOS os textos que circulam por e-mail atribuídos ao Verissimo não são dele'.

Pronto! Sendo assim, pode-se concluir que o Verissimo não existe! Os pedaços dele talvez até existam... Quem sabe o Luis da Mercearia Virtual - o cara que adora vender gibis pra garotada curtir o Maurício; que tal o Fernando da Padaria Real, um portuga que pra variar tem por alcunha Manuel Fernando – o Manuel foi mera retórica, pois pois que em Portugal não existem Manuéis, ora pois!

Agora falando sério, sem descabidas brincadeiras de início de dia cominado com início de final de semana, felizmente uma sexta-feira não treze... Falando de vera, valendo. Vamos falar veríssimo! Será que o cara nunca existiu mesmo? Ou ele é amigo do ubíquo Mr. Summers – aquele cara pálida americano famoso que falava a seus seletos alunos de Harvard que 'o roubo de ideias era apenas uma prova do espírito empreendedor'?

E aquele senhor simpático e muito sorridente (pareceu-me tímido), de cabelos grisalhos, tocando sax com amigos no programa do Jô – será que nem aquele era Verissimo? Eu assisti ao programa... Não é possível, ele tem que ser real (o Verissimo).

Espera aí! Se não é dele, quem foi o indivíduo que teve a genialidade de criar a dita cuja crônica 'Um dia de Merda'? Se a merda não tem dono e, considerando-se que 'quando o filho é bonito todo mundo quer se o pai', então a merda é minha!

A partir de agora, quando me perguntarem quem foi o infeliz que num fatídico dia saiu da esplendorosa cidade do Rio de Janeiro, de ônibus, tendo por destino final Miami, eu também sentenciarei: Eu!

Afinal, que mal existe em fazer um parto de cócoras? Quando está na hora não tem jeito mesmo, a criança tem que nascer!

E tem mais: nesse mundo onde a singularidade faz toda diferença, nada mais chique e genuíno que embarcar pra Miami 'trajando sapatos sem meias, calças do lado avesso e um pulôver gola V', sem modess!

Triste mesmo foi ter descoberto, na mesma comunidade, que 'Um dia de Modess' também não era de autoria do Luis. Poxa, essa foi demais pra mim! Tudo bem, confesso que, em se tratando de modess, a única coisa que entendo sobre o assunto, e bem pouquinho, é do que ele tampa, mas, mesmo assim, foi decepcionante ficar sabendo que meu ídolo nunca usou um modess tipo mini, sem marca famosa – se isso nunca tiver acontecido na vida dele, muitos dos meus sonhos de criancinha, não resolvidos durante o complexo Complexo de Édipo, retornarão, tornando-se monstros a me atormentarem a vida, todos os dias, até o derradeiro deles.

A percepção masculina, aguçada por sinal, desconsiderando os pontilhados da embalagem na hora de abrir o modess e a preocupação bem de mulher pra mulher, tipo Marisa: 'será que vai marcar?' - desce aos pormenores da perscrutação.

E se também essa pérola modessiana é apócrifa, era – de agora em diante, sempre que me perguntarem quem foi o autor do texto 'Um dia de Modess', responderei, exultante: Eu!

Comprovando minhas insidiosas intenções, eu, tão logo termine este traumático texto que se iniciou pastoso, como as remelas de olhos recém despertos, singrando para o sangrado mundo interior feminino invadido, levianamente, por mais um curioso e infeliz homem, cuidarei de disseminar mundo afora que o Verissimo sou eu!

… E se em algum momento futuro algum e-mail intitulado 'A mentira tem pernas curtas', uma crônica de Luis Fernando Verissimo, sem acento no Verissimo, retornar para mim, ficará uma indelével certeza: a de que a mentira, realmente, tem pernas muito curtas, mas ela anda!

Nijair Araújo Pinto

Crato-CE, 27 de maio de 2011

11h27min

Nijair Araújo Pinto
Enviado por Nijair Araújo Pinto em 27/05/2011
Reeditado em 19/08/2011
Código do texto: T2996636
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