Esquentamento e degelo - mar e relacionamentos
Leio na Fola de São Paulo,de 8 de maio de 2011, um texto intitulado ”O dilema da Groelândia”. Refere-se ao esquentamento do planeta e como os rios congelados têm fluído depressa demais em direção ao mar. Se há dez anos andava dez metros por dia, hoje anda 20. Diz o geofísico, de origem paquistanesa, Shfaqat Abbas Khan,que a camada de gelo está emagrecendo e não se sabe o impacto do nível do mar daqui a um século. Já outro cientista americano Fahnestock e seus colegas afirmam que “nos últimos dois anos a geleira tem conseguido formar icebergs, fenômeno típico do verão, em pleno inverno. Os fiordes que funcionam como uma ‘represa’ não funcionam mais”. Já o pesquisador John Sonntag da NASA, sobrevoa a região há uma década, disse que neste ano nunca viu o fiorde tão aberto.
Passando da Dinamarca para a Noruega de navio quis, com muita curiosidade, ver os fiordes. Acordei de madrugada, chamei o guia, convoquei meus amigos e ficamos à espera.O frio estava de doer. Subia e descia os vários andares da embarcação e, quando estava no restaurante com o grupo para tomar café, em lugar estratégico para ficar curtindo a paisagem , vejo o primeiro de outros fiordes que veria. São eles que fazem a alegria dos noruegueses no verão;trabalham das 8 às 16 horas e depois é desfrutarem deles. Em Oslo, de quatro moradores três possuem barcos. Dá para ver como é a relação forte que têm com o mar e assim curtem o seu escasso e tão esperado verão.
Volto à leitura e estou curiosa para saber sobre as mudanças que ocorrem com o mar. Está acontecendo derretimento na Groelândia e no Alasca e “há uma perda acelerada de gelo marinho, o que causa erosão em vilas litorâneas que costumavam ficar abrigadas do efeito das ondas pelo mar congelado”. É péssimo para os pescadores, pois a camada de gelo estando fina não agüenta os trenós que os transportam e quando o gelo fica muito grosso, dificulta a sua perfuração para fazer a pesca.Tudo compromete a sobrevivência. Associo aos relacionamentos humanos, com seus esquentamentos e degelos. Quando um dos envolvidos na relação percebe a superficialidade no afeto, surgem a insegurança, fragilidade e conflitos. Quando há emoções profundas, podem causar danos quando há perdas. Sempre o bom senso aponta para o equilíbrio, embora quem pode garantir consegui-lo, se não há como dosar a intensidade do envolvimento? Se sobre a natureza os estudiosos, vez por outra, falham em suas previsões de algumas catástrofes, imagine em relação aos sentimentos entre pessoas! Por mais que confie e que haja certa previsibilidade quanto ao comportamento do outro, há sempre possibilidades do inesperado, podendo causar surpresas, decepções, incompreensão. Será que era um processo, tal qual o degelo nas geleiras?
Dizem que o perigo dos icebergs não está à mostra.Os maiores danos são causados pelo que está submerso.Talvez eles sejam uma lição para os relacionamentos. As aparências, por vezes, confundem, enganam. Só querer ver um pouco abaixo e lá estão os fatos. Muitas vezes o querer se enganar ocupa espaço, ou por comodismo, ou por temor de enfrentar o que virá sem alguém ao lado. É a natureza e as circunstâncias que vão determinando as ações e suas respectivas conseqüências. As mudanças ocorrem nos mares, nos rios, nos fiordes e nas relações. É o curso normal ou não da natureza.