POR QUE O CABRITO FAZ PELOTINHAS?
A primeira vez que me perguntaram o que eu queria ser quando crescesse, eu não titubei para responder: bailarina! É que eu ficara encantada com uma quando assisti à “televizinha” pela primeira vez em minha vida. O sonho acabou quando eu percebi dois empecilhos: não havia escola perto de mim e nem grana para frequentá-la, caso houvesse.
Durante o Ensino Médio eu mudei de ideia duas vezes: quis ser contadora e advogada. Desisti da primeira profissão, quando percebi que sou uma ameba mongoloide em matemática, e da segunda quando desconfiei que minha natureza não me permitirá, jamais, defender culpados ou acusar inocentes.
Na década de 70, ao estudar no Yázigi, eu decidi que seria professora de inglês e para tal fui cursar Letras com habilitação nesta língua e também no idioma de Camões. Desde então eu tenho sido bem feliz, pois sei que quando socializo esses conhecimentos, contribuo para que as pessoas se instrumentalizem para mudar, para melhor, as suas vidas.
Todo esse trololó é para me referir aos “linguistas”, que resolveram criticar o MEC e, consequentemente, o Ministro Haddad, pela adoção e aquisição do livro “Por uma Vida Melhor”, escrito pela Dra. Heloísa Ramos para a Educação de Jovens e Adultos. Nele, até onde consegui ler, vi que a autora cita exemplos de variação linguística e alerta os leitores sobre o “preço” que se paga quando se incorre em erros de concordância verbal: o preconceito lingüístico.
Durante esses dias tenho lido e ouvido um monte de asneiras escritas e faladas por pessoas que, até então, eram consideradas intelectualmente respeitáveis. Fiz algumas conjeturas e as divido com você, meu leitor: Será que esses críticos são dados a sofismas ou estão exercitando suas ideologias oposicionistas? Será que são formados em Letras? Caso sejam, será que se formaram no tempo em que se amarrava cachorro com lingüiça? Por ventura, já ouviram falar em Fernand de Saussure, em langue e parole e Abralin (Associação Brasileira de Linguística)? Será que já leram Marcos Bagno (“A Língua de Eulália” e “Preconceito Linguístico”), Sírio Possenti (“Por que (não) ensinar gramática na escola”) e Ataliba Castilho? Por fim, será que sabem, pelo menos, por que o cabrito faz cocô em pelotinha?
Se a resposta for SIM apenas para a terceira pergunta acima citada, penso que seria melhor esse pessoal fazer vestibular para Letras. Nesse curso a gente aprende muito sobre língua, linguagem, fala, variação lingüística, gramática, literaturas... e o melhor: aprende a analisar o discurso que se ouve ou que se lê.
Em outras palavras, eu não posso ensinar o pas de deux, porque não estudei balé, não sei fazer balanço contábil, porque não cursei essa ciência, não discuto jurisprudência, porque não cursei Direito, mas com a experiência de 08 anos coordenando curso de Letras, acho que sei até responder à pergunta título: o cabrito faz pelotinha por causa do peristaltismo de seus intestinos ao digerir sua alimentação fibrosa.
P.S: “Peristaltismo” não tem nada a ver com peralta, viu?