Desmontando

...

"O segredo de aborrecer é dizer tudo" (Voltaire)

-Digo-lhes, entretanto, que nem tudo é dito com palavras.

...

O mundo gira e tudo parece sair do lugar com as voltas do mundo.

Sinto como se tudo tivesse ficado uma bagunça total em meus dias e sonhos.

Tenho me esforçado a entender tudo. As dores e as delícias que cada partícula desse mundo pode nos oferecer. Mas se tem uma coisa que eu desconheço cada vez mais é o sentido do amor.

Não entendo o que há de tão difícil e doloroso nesse departamento… Infidelidade, saudade, oportunidades fracassadas. Qual será o segredo disso tudo? Como destrinchar os sentimentos ao ponto de fazer agirmos da maneira certa quando amamos? Qual lado do cérebro tem que falar mais alto? Como saber que aquele amor foi o amor da sua vida e que depois disso, do desperdício do sentimento, das chances esgotadas nada mais terá o mesmo gosto? Ou se tudo isso é besteira é que alguma hora, cedo ou tarde vamos voltar a sentir taquicardia quando alguém se aproximar? Existe amor puro depois de tantas desilusões? Ou agora depois de tanto amadurecimento os sentimentos acompanham isso e se transformam?

Será que sou a única que sente ferver tudo em meu ser? Será?

Esse pulsar de tudo, o calor das palavras, o não saber...

O que realmente queremos? O que queremos é o que realmente nos falta?

E o que possuímos? Um quase sempre ou nem um quase...

Acontece com todos? Não sei. Mas a intensidade que vivo tudo me faz sentir angustiada.

E, o que me deixa intrigada é ver que os sintomas de solidão, desilusão, desamor e paixão são universais. E que a busca por essas respostas é generalizada.

Tenho pensado em falhas... penso que meu maior sonho é não ter mais sonhos. Sem sonhar eu me sinto melhor. Pq meus sonhos são sempre bobos e sem nenhum valor para quem os conhece. Há quem diga que são pobres.

Quem pode definir o valor de um sonho?

Penso que só quem o sonha. Enfim, mas eu ainda preciso terminar a trilha...

Tenho absoluta certeza que não sou uma pessoa fácil. E, não sou mesmo.

Eu odeio essa minha mania de analisar as coisas, as pessoas, as situações...

O fato é que sou teimosa.

Isso! E essa teimosia teima em não me abandonar.

Por que as pessoas acham que podem ser quem elas bem entendem?

Por que elas acham que sempre podem esnobar?

Por que não se demonstra o que verdadeiramente se sente?

Por que iludir, se não se quer reticências?

Por que falar por falar, quando nem se quer ouvir?

Por que perco o meu tempo com tudo isso?

Por que não mando pra P.Q.P e pronto?

Por que não tenho aquela noite intensa com aquele que me dá tesão?

Por que não me despir de mim mesma e ser quem desejo?

Por que não páro de besteira e aproveito a vida?

Por que sempre tenho que cumprir protocolos?

Por que não invento de sumir e consigo essa proeza?

Por que não me enrosco nos lençóis e penso no que amo?

Por que preciso viver de traços rabiscados?

Por que tenho que sorrir risos mal dados?

Quer saber?

Cansei de tentar agradar sem sucesso.

Cansei de dar tudo sem ter nada em troca.

Cansei de tentar sozinha.

Cansei de viver esperando um momento de alegria.

Cansei de chorar escondida.

Cansei de correr na sua trilha.

Cansei de viajar tão longe.

É... eu preciso saber como é ficar sem "sentir"...

Agora eu quero sair e bater a porta

Vou derrubar os obstáculos que me rodeiam.

E desacatar as ordens

Remarcar todos os compromissos desfeitos.

Suavizar meu corpo... Ah, isso...

Sim, eu vou!

Mas, como?

Da mesma forma que o céu expulsa as nuvens.

Como a lua esconde o sol.

Da mesma forma que eu fico parada no tempo por horas a fio, deixando de ser e viver quando tenho a chance

Tudo agora me parece um bom plano

Que me façam de louca

Que me tratem por criança.

Que me ponham de lado.

Que tentem me ludibriar.

Que consigam me acalmar.

Que o mundo gire do jeito que tiver que ser. Mesmo que balance tudo.

Eu decidi agora.

E que venham as críticas, vou me embriagar de palavras

E que me falte senso e tática.

E que eu derrube tudo que se postar à frente.

Chega... de dissimular o que é óbvio.

De demarcar território alheio.

Manipular meu desejo proibido.

Assim... eu sigo sorrindo, satisfeita.

Espero, que não tenha sido em vão...

Meu repúdio escrachado.

Meu sorriso abafado.

Minha lágrima teimosa.

Agora, o que fazer???

Que morra o capricho... o outro, o quase, o pouco...

Que matem o gozo não sentido e abafado...

Que chorem pelo que eu não consigo sentir....

Que chamem a quem eu não conseguir...

Sabe os desenhos animados? Os personagens correm e passam direto no precipício... mas eles nem caem! Quando olham pra baixo e se dão conta que estão suspensos no ar, sentem aquele frio na barriga... aquela sensação de desmoronamento, desproteção... É aí que caem!

O segredo da vida deve ser esse: nunca olhar pra baixo!

Clichê, mas é tudo que consigo lembrar quando sinto essa sensação de começo-mal-terminado!

Enfim... o segredo mesmo é fechar a porta.

Cris Souza Pereira
Enviado por Cris Souza Pereira em 25/05/2011
Código do texto: T2992505