Do Último Banco
A noite estava agradabilíssima a temperatura girava em torno de vinte graus Celsius, o dia era o décimo primeiro do quinto mês do ano de dois mil e onze, em meio aos meus pensamentos voltados para as tarefas que ando envolvido no trabalho, fui interrompido por um amigo com um convite, desses que te pegam distraído e você preso aos seus compromissos procura todos os motivos pra se esquivar e dizer não..., não por conta da qualidade do convite, mas por contas dos “empecilhos virtuais” que colocamos quando alguém tenta nos afastar das nossas rotinas.
- Poxa Marcelinho, vamos lá! Insistia o Helison, um menino e amigo anjo que Jesus deu de presente para a Dataprev...
- Eu não sei ainda, vou pensar melhor e mais tarde eu falo com você. E assim seguia me esquivando do convite de ir assistir um culto na Congregação que ele congrega. Como disse antes, nada contra, mas é que, já estava tudo certo para eu seguir direto para a minha Congregação...
- Poxa Marcelinho, você pode orar lá com a gente..., vamos..., poxa! Vamos?
- Eu não sei...
- Poxa, vamos?
- Tudo bem, vamos, mas antes quero fazer uma objeção, certo?
- Certo. E qual objeção você deseja fazer?
- Primeiro, quero ir direto para Congregação para orar e adorar o meu Deus e isso dispensa apresentações e qualquer tipo de dispersão no meio do caminho, certo?
- Certo. E mais o que?
- Mais nada.
- Mas e se as pessoas quiserem saber quem é você? Eu não posso mentir...
- Quem disse que você precisa mentir? Eu não falei isso, eu só disse que adorar o meu Deus está em primeiro lugar..., portanto quero chegar à Congregação dentro do horário estabelecido certo? Quero poder prestar atenção na mensagem que Deus terá para mim...
- Certo, eu entendi.
Entramos no “Ônibus zipado” dele, também conhecido como Zafira e seguimos para Congregação..., no caminho ele tentava me preparar para tudo que ele imaginava que os meus tão surrados olhos, já não estariam acostumados...
A idéia dele era evitar que eu tomasse algum tipo de choque emocional, desses que nós tomamos quando permitimos que a falta de humildade, orgulho e a soberba tome conta da gente quando abrimos um abismo entre o que faria Jesus em nosso lugar do que, o que faremos de fato. A Congregação fica situada dentro da Comunidade da Mineira, Comunidade essa, que recentemente havia passado por grandes aflições envolvendo muita violência e que através do sensacionalismo dos meios de comunicação eu já havia tomado ciência...
Em seguida, ele tentava me preparar para a questão da “religiosidade e liturgias”, enfim, por perceber o meu amor incondicional por Cristo e vivendo o gozo da graça, ele tentava despertar a minha complacência em relação aos costumes e ao respeito entre a transição de fé do velho para o novo, coisa que alguns irmãozinhos caminham mais rápidos, outros um pouco mais lentos, mas que o mais importante é que estão caminhando...
- Não seja bobo anjo de Deus, eu entendo perfeitamente o que você está tentando me falar... É na graça que aprendemos a respeitar as adversidades. Tratei logo de tranqüilizá-lo... - Fica tranqüilo meu irmãozinho, ainda que eu tenha decidido em cima hora, Deus já havia planejado o meu caminho, muito antes de eu nascer..., porque aqui pra nós..., está aqui dentro do seu carro indo em direção a Comunidade da Mineira, jamais passou pela minha cabeça..., mas creio que não se cai uma folha de uma arvore sem a ciência e o consentimento de Deus...
Enfim, como estava muito tranqüilo e em paz na paz de Deus, não tive a menor dificuldade de analisar cada detalhe sobre a ótica da palavra de Deus..., de cara e nas proximidades da igreja enfiei um dos pés em uma poça de barro, fruto de uma chuva que caiu no dia anterior..., claro que ele ficou muito preocupado com a sujeira que ficou a minha calça e a bota que eu estava usando, era lama pra tudo que é lado..., e como um bom anfitrião providenciou um pano pra eu dar uma aliviada...
- Tudo bem. Dizia eu. – Primeiro fui batizado na água por Jesus, agora fui batizado no barro por vocês, e já que foi exatamente do barro que vim e pra lá voltarei, pela sujeirada que eu estou vendo, já dar pra notar que realmente não somos nada...
- Toma, usa essa bucha aqui, lava ela aqui no tanque e passa na boca da calça e na bota... Troquei então o pano pela bucha...
Preocupado com o culto que já tinha começado, confesso que fiquei meio desorientado enquanto limpava o sapato com um cheiro que vinha da cozinha da Congregação feito pelas mãos de uma irmã que eu não sabia o nome dela, mas já sabia que as mãos dela eram abençoadas...
- Oi, boa noite, como vai a Senhora, prazer eu sou o Marcelo e a Senhora como se chama?
- Eu me chamo Ana.
- Oi Dona Ana, não sei o que a Senhora está fazendo, mas que está cheirando pra caramba está...
- Estou fazendo o tempero da carne moída que eu vou colocar nos pasteis...
- Oba! Quando estiver pronto eu vou querer um..., posso?
- Claro. Afirmou ela, enquanto ria pra mim...
Já com as calças limpas limpa entrei no salão da Congregação e como me acomodei no último banco da Igreja enquanto o meu irmãozinho Helison se acomodava na bateria, de lá ele me olhava preocupado com as minhas acomodações, já eu, não olhava mais pra ele, olhava pra Cristo, que olhava para um anjinho que corria o salão inteiro da Congregação, mas eu já não olhava mais pra ele, olhava para o Pregador Alex que olhava pra Cristo, enquanto seguia nos orientando a manter os nossos olhares fixos em Cristo para não afundarmos.
- Minhas Ovelhas atentem para o que o Apóstolo Paulo disse em primeira Coríntios 10.12,13, os que estiverem de pé, se cuidem para não cair, e como um bom Pastor dos olhos de ameixa e de coração vermelho por Cristo ele insistia:
- Não veio sobre vós tentação, senão humana; mas fiel é Deus, nosso Pai Zeloso, Misericordioso e amigo que não vos deixará tentar acima do que podeis, antes com a tentação dará também o escape, para que a possais suportar.
Tão logo terminou de recitar os versículos eu não pude deixar de ser remetido, acredito que pelo Espírito Santo em notar que nessa passagem, Deus não fizera uso de uma interrogação, de uma dúvida, de uma ameaça de espécie alguma..., o bom Pastor Alex, nos dizia, que as nossas lamentações já não nos pertencia mais, que as nossas dores e sofrimento já tinham sido levadas por Cristo, que qualquer coisa diferente disso, deveríamos imediatamente entregar os nossos fardos nas mãos de Cristo e crer piamente que atravessaríamos essa estrada com Deus.
“Amados, não estranheis a ardente prova que vem sobre vós para vos tentar, como se coisa estranhas vos acontecesse; Mas alegrai-vos no fato de serdes participantes das aflições de Cristo, para que também na revelação da sua glória vos regozijeis e alegreis.” – 1ª Pedro 4.12,13.
O Pregador dos olhos de Ameixas parecia saber que as lamentações desmobilizam as ovelhas, que lamentações cegam as ovelhas e conseqüentemente anestesia nossas mentes tirando o nosso foco da vitória, roubando de nós a fé, a fé que Sarah precisou renová-la aos cem anos de idade aproximadamente, quando foi motivada por Deus com o seguinte questionamento?
- Por acaso Sarah, existe algo que eu não possa fazer?
E Sarah, humildemente entendeu a santa pergunta, engoliu suas santas palavras a seco e recebeu um santo presente, de um Pai Santo e Zeloso...
O nosso bom Pregador queria chamar a nossa atenção, pedindo que deixássemos nossas máscaras no banco da igreja e que seguíssemos todos na forma retilíneo uniforme em direção a face de Cristo
- Quem foi que disse que aqueles que têm fé em Deus não sofrem?
Os sofrimentos são conseqüências das nossas desobediências, mas o nosso Pai zeloso pela misericórdia permite que a graça dele nos alcance e trabalhe diuturnamente em prol de nossas vidas...
Do último banco pude perceber o amor incondicional de duas verdadeiras adoradoras de Deus que se banhavam em simplicidade enquanto puxava a igreja a acompanhá-las em um louvor; Do último banco vi a face simples do português subindo ao púlpito para dar o testemunho de um Deus vivo; Do último banco provei das doses cavalares do Pastor Telmo, despertando as ovelhas da anestesia emocional, pelo tamanho da dose, era possível percebe o tamanho da necessidade..., foi do último banco que o Espírito Santo me disse que todos nós somos iguais aos olhos de Deus, do último banco percebi a presença de cada um deles caminhando em minha direção, eles queriam me dar mais do que um simples abraço, queriam me acolher como membro de uma família originada na graça do sermão da bem aventurança de Jesus...
E assim, de perto e já não mais do último banco da igreja, agradeci a Deus por cada amizade ali colocada em minhas mãos e retornei ao futuro do meu presente com a certeza absoluta de ter recebido daquela Comunidade o melhor presente que podemos receber dos nossos irmãos, o amor incondicional do nosso Senhor Jesus Cristo.