Encantadores vaga-lumes
Já houve até quem visse anjos
- muitos anjos - voando
nas asas dos pirilampos.
Hélio Chaves
Lá no meu sertão, eles chegavam com a noite. E eu saía a capturá-los, aprisionando-os numa caixinha de fósforo marca Olho ou Beija-flor, já não me lembro mais.
Meu negócio era saber que luzinha era aquela que eles - num pisca-pisca intermitente - emitiam, iluminando a escuridão sertaneja.
Mantinha-os presos por alguns minutos. Mas, no cativeiro, eles apagavam suas lanterninhas.
Frustrado na minha infantil pesquisa, eu os devolvia ao céu escuro, no terreiro de minha casa.
Postos em liberdade, eles voltavam a piscar com mais intensidade e insultuosa frequência.
Na ingenuidade feliz dos meus oito anos, eu jurava que eles, uma vez libertos, religavam suas lanternas azuladas, e me mandavam para aquele lugar...
Oh! Os encantadores vaga-lumes!
Eles nunca sumiram de minha memória. Permancem, até hoje, como uma das boas relembranças dos meus tempos de criança, vividos na sertajena Iguatu, no coração do Ceará.
Pois não é que, dia desses, um parente meu, sabedor de minha paixão pelos pirilampos, mandou-me dois desses interessantes insetos luminosos? Onde ele os encontrou, não sei dizer.
Mas - que pena! - eles chegaram mortos ao destinatário, que, de imediato, confessou-se desapontado.
Era um casal de vaga-lumes. Um tinha asas e o outro não. O de asas era o macho. Só os pirilampos machos são alados.
Meu primo me pedia que escrevesse alguma coisa sobre o vaga-lume. Se possível, "a origem do seu nome".
Como eu já tinha lido muita coisa sobre os vaga-lumes, não foi difícil dizer-lhe que o nome pirilampo tem origem no grego: pyris (pyros) = a fogo; e lampis = a luz.
Sobre os vaga-lumes, o Mestre Malba Tahan deixou-nos páginas memoráveis. Coloca-os na sua maravilhosa prosa e nos seus inspirados versos.
De J.B. de Mello e Souza leia, meu dileto leitor, Os Pirilampos na Terra e no Céu - in Belezas e Maravilhas do Céu - um livrinho que não me canso de indicar. Creio que hoje, só nos Sebos ele poderá ser encontrado.
Como liguei os pirilampos à minha infância, lembrei-me deste poema, do Fagundes Varela, que minha professora primária, nos idos de 1940, me ensinou.
"Vaga-lume - Quem és tu, pobre vivente/ Que vagas triste e sozinho,/ Que tens os raios de estrela,/ E as asas dos passarinhos?
A noite é negra; raivosos/ Os ventos correm do sul;/ Não temes que eles te apaguem/ A tua lanterna azul?
Quando tu passas, o lago/ De estranhos fogos esplende,/ Dobra-se a clícia amorosa,/ E a fronte mimosa pende.
As folhas brilham, lustrosas/ Como espelhos de esmeralda;/ Fulge o íris nas torrentes/ Da serrania na fralda.
O grilo salta das sarças;/ Piam aves nos palmares;/ Começa o baile dos sílfos/ No seio dos nenúfares.
A tribo das mariposas,/ Das mariposas azuis,/ Segue teus giros no espaço,/ Mimosa gota de luz!
São elas flores sem hástea;/ Tu és estrela sem céu;/ Procuram elas as chamas;/ Tu amas da sombra o véu!
Quem és tu, pobre vivente,/ Que vagueias tão sozinho,/ Que tens os raios da estrela,/ E as asas do passarinho?"
É sempre muito bom retornar à infância.
Melhor ainda, se nas asas dos frágeis vaga-lumes...