UM DIA PARA NÃO SE ESQUECER...
Um dia esquisito, havia sol, mas fazia muito frio...
Uma manhã cinzenta e uma tarde azulada.
Não me lembro de ter visto vento sobre as arvores,
Nem de ver folhas pelo chão.
Mas me lembro fielmente daquela cena, jovens e velhos dividindo a mesma comoção, todos com olhares desacreditados sob um caixão.
Havia poucas pessoas ali, e naquele momento parecia que suas vidas também havia se ceifado.
Cheguei até a pensar que estavam num coro de lamurias, pois desfaleciam em comum pranto.
Mas do que sentir a dor da morte parecia que sentiam a própria morte, como se seus corpos já não possuíssem espírito.
Palavras repetidas; POR QUÊ? POR QUÊ?POR QUÊ?
Era tão grande o numero de repetições de palavras quanto o numero de repetições de obstruções.
Pois a todo momento o pobre coveiro era impedido de prosseguir seu atônito trabalho.
Os ali presentes se arremeçavam vez após vez em direção ao caixão de cor marrom.
Ora deitavam sobre ele, ora impediam que o depositassem na profundidade.
Parecia que não acreditavam, ao mesmo tempo em que parecia que não aceitavam.
Durante quinze minutos olhei todos eles,
E observei que entre eles havia muito em comum,
A roupa era humilde, a pele era escura, o rosto era abatido pela vida dura, e não se importavam de sujar os pés com areia da recém cavada sepultura.
Por um momento desejei também morrer, somente para testemunhar se haveria tanto pesar e lamento por minha partida.
Após esse episodio, durante todo o resto do dia me indaguei se havia algum tipo de ensinamento na morte,
E me saciei com este:
O PROXIMO PODE SER EU, E O QUE ESTOU CONSTRUINDO DE BOM EM MINHA VIDA?
Realmente, um ensinamento para voltar a viver.
Realmente, um dia para não se esquecer...