PONTO “G”
“Quantas vezes você ficou só? Quantas?
E quantas vezes você sobreviveu? Quantas?
(...)
Nada é
ausente da solidão absoluta.
Nada é.”
BENITO BARROS
Meu pai, homem criado no sertão do Rio Grande, é um daqueles caras, como dizia minha amiga Juju: que saiu da roça, mas a roça não saiu dele. O frechado mesmo morando na cidade, já com mercado, supermercado, shopping... Onde facilmente se podia comprar um frango congelado ou assado na padaria, não se contentava e cismava de criar, no quintal lá de casa, uma ruma de galinha, galo pato, guiné e por aí vai... Todo dia ele me fazia ir comprar milho e arroz da terra pros bichos comerem. Vinha eu com o saco de milho e os meninos da rua me apelidando de “Mané Galinha”. Mas isso não era o pior, pois muito mais constrangedor foi o apelido ter surgido do fato de eu ter que, todo santo sábado de manhãzinha colocar uma galinha de baixo do braço e leva-la até o matadouro, pra que ela fosse o velho almoço do domingo em família. Poxa, isso eu tinha mais ou menos uns 14 anos... Era só um moleque!
Me dava dó, pois enquanto aos domingos os meus amigos comiam pizza, eu era obrigado a comer galinhada, batata doce e feijão verde. Não que eu não gostasse... Adorava aquelas iguarias, mas é que quando chegava segunda-feira no colégio, conversando com as namoradinhas os caras diziam: “véi, fui a pizzaria... pense numa pizza de calabresa irada!”; “boy, abriu uma nova sorveteria na pracinha da cidade... o sorvete de creme é irado”. Daí elas perguntavam: “e você Manel, comeu o que no domingo?” Lá vinha eu com a velha batata, o velho feijão verde e velha galinha torrada. Menos se esperava e começavam todos juntos com o coral da segunda-feira: “quem comeu pescoço, coxa e asinha? Mané galinha, Mané galinha, Mané galinha...” Dá até pra fazer um funk com essa rima... Era um trauma pra mim!
Olha, quem tiver suas galinhas, nem precisa esconder de mim que eu não faço a mínima questão de comê-las. Não aguento ver galinha nem de longe.
Mas no fim de tudo, já com os meus dezoito pra dezenove anos, acabei pegando uma das garotinhas do colégio. Modéstia a parte, apesar de ser motivo de chacota, eu sempre tive sorte com as mulheres... Afinal, o infeliz do meu pai acertou pelo menos numa coisa: me fez alto, moreno, corpo atlético e olhos castanhos. Hilário foi uma vez em que certo dia, depois de uma boa transa, começou a rolar um papo meio doido:
- Você foi o único a me dar orgasmo. Me disse a Sayonara.
Isso mesmo, ela se chamava Sayonara – loira, olhos verdes e um belo bumbum de mulata. Bom, retomando o diálogo eu respondi:
- Mas ora, pra quem viveu comendo carne de pescoço de galinha todo santo domingo, minha filha, comer vagina é fichinha.
Pensei que ela fosse se chatear e me dar um tabefe ou fazer cara feia, mas que nada, ela gostou da piadinha e sorriu sem gargalhar só com o cantinho da boca... Depois não se conteve e soltou um daqueles insultos que as mulheres adoram: “seu safado!”
Sei não, viu...! Eu nem queria mais pegar a Sayonara, só que a danada não queria me deixar em paz, era louquinha por mim. Mas enjoei dela e fui pegando a Mariana, Lidiane, Natália, Juliana... a Ana, a Paula, Fabiana, Adriana, Raissa, Clarissa, Clarice, Clara, Camila... E por aí vai! Acho que o apelido de Mané Galinha deu certo!
Todo homem dentro de si esconde um galinha, e ainda não querem que as mulheres tenham ciúmes, reclamem ou enlouqueçam. Se vê que, tem muita mulher hoje em dia que jogou no mato o amor por descobrir no sexo coisa bem melhor... e como! Sexo é bom, é prazer, liberta, faz bem a pele; o amor angustia, prende, faz sofrer, dá rugas... Porque tanto tabu pra falar de sexo? Pô, logo o sexo viver por aí de cochicho em cochicho, enquanto em cada esquina existem adolescentes bobocas falando de primeiro amor. "Éca"!
Uma coisa é verídica: nem todo mundo é fruto do amor entre o pai e a mãe, mas com certeza, fruto de um bom "papai e mamãe". Na noite em que me fizeram, não sei mesmo se os meus pais se amavam... O que sei de verdade é que eles treparam. Você duvida que isso também aconteceu com os seus pais? Acho que não, né...? Você não é filho de uma chocadeira que eu sei...!
Sexo não é prisão, é parque; o amor sim é uma penitenciária!
Pois é irmão... foi comendo sobrecu de galinha que eu descobri onde fica o Ponto “G” das mulheres! E eu reclamando do meu pai, ó...!
Tem um lado muito bom quando as mulheres me escolhem pra namorar... Elas não aceitam, brigam comigo e sofrem, mas descobrem uma virtude magnífica em mim: é que eu não penso nunca em matrimônio ou viver essa coisa doentia chamada casamento!
Como disse Bukowski num de seus mais célebres diálogos:
- Você é casado?
- Sem chance
- Qual é o problema?
- Uma mulher é um emprego de turno integral.
- Acredito que há um esgotamento emocional.
- E físico também... Elas querem trepar dia e noite
- Consiga uma que você goste de comer.
- Sim, mas se você bebe, fuma ou joga elas pensam que isso deprecia o amor que elas tem por você
- Arrume uma que cospe de beber, jogar e foder.
- Quem quer uma mulher assim?
Enquanto isso, a vizinha da frente – gerente executiva - anda traindo o marido com o personal trainer; a do lado direito, que acabou de completar 18 anos – universitária - confessou que adora fazer suruba; a do lado esquerdo – médica - sai diariamente com garoto de programa; já o vizinho de trás, quintal colado com o meu, que sua mulher o trocou por outro cara só porque perdeu o emprego, cria galinhas. Pra mim é um horror, pois sou obrigado acordar todo dia às cinco da manhã por causa do canto alto do galo, assim como tenho que escutar o dia todo as bichinhas cacarejar, grunhindo atrás de milho e arroz.
Tai mulher, o que tanto querias: acabaste conseguindo o que sempre desejou, hein: chegar aos pés do homem e ser tão vulgar quanto ele sempre foi... Parabéns!
Sinceramente, eu não tenho frescura nenhuma
Mas depois que você fizer besteira
E se achar ridícula por isso
Não vá chorar
O homem ainda não te aceita assim como estás
Tal qual sua Imagem e semelhança
Não chore,
A lágrima não é a cachoeira da verdade de quem tem a razão
Mas o esgoto por onde corre o medo da mentira
E o desprezo da rejeição
O sofrimento ainda não tem o poder de mudar ideias
Cale-se!
Chorar não vai mudar o juízo das pessoas
O pranto não vai mudar nunca a sentença que nos condena
Cale-se!
A lamentação não mudará a oração daqueles que nos julga
Cale-se!
Mas se quiser erguer a cabeça e rir da insanidade de quem julga
Assim o faça, pois os que julgam por aí
Guardam Dentro de si uma insensatez enferma
Quem julga tem sempre uma fé falsa e irracional sobre si mesmo
É muito fácil, pô...
Ver alguém passar do outro lado da calçada
E começar a xingar o cara pelo que o cara fez
Engraçado, na frente do espelho ninguém xinga ninguém
A forma como se vive é uma opção sua
Se você optou viver assim, não vá se arrepender
Pode ser tarde demais!
O povo finge que o passado é só lembrança
Que foi esquecido e tudo ficou pra trás como recordação,
Mas no fim,
Sempre usa teu passado negro como torta pra jogar na tua cara
Se você prestar bem atenção
O defeito é usado como chicote:
Basta desapontar alguém
E esse fulano te açoitará com o que tu tens de mais fraco em ti
Os teus defeitos nunca se vão pra sempre
Logo voltam até que você desperte a ira de alguém
Os defeitos nunca morrem, adormecem
Sim... vixe! Me distraí aqui, ó... Baixou o poeta em mim e fiquei poetando... Acabei me esquecendo da galinha, espie mesmo! Ah, esquece as galinhas... Vou ali agora comer uma perua. A minha chefa, sabe...? Ela disse que o marido ia demorar no trabalho por conta de uma reunião e me convidou pra jantar num motel. Eu vou, né...? Afinal, a opção de casar foi deles e a de ser solteiro é minha! Será que ele estava numa reunião mesmo!?
Bom, pra mim que não penso em casar nunca, essa parada de mulher querer pagar na mesma moeda, tá me favorecendo pra caramba. Então, não tô nem aí se ele ficou mesmo numa reunião, foi jogar futebol ou baralho com os amigos ou se foi para algum bordel comer uma prostituta barata. É a minha chefa, parceiro! Você acha que eu vou perder uma dessas? Pô, a perua pôs silicone, fez uma lipo, usa shortinho e é bem sucedida...
Assim é a mulher de hoje em dia.