O Dia da Partida

Hoje, meu único filho, dono de sua recente condição de adulto, partiu de nossa casa, para construir seu caminho de felicidades e agruras, assim como é todo caminho.

Chorei, como chora o pai egoísta, que ver-se-á privado da presença do filho. Presença, que sempre trouxe o conforto ilusório de que ao nosso lado, diante de nossos olhos, nossos filhos estão protegidos de todos os males do mundo.

Chorei de alegria, por conseguir enxergar naquele breve momento o homem no qual meu menino se tornou: seguro de que poderá seguir em frente, por seus próprios esforços, mesmo levando consigo a mensagem do pai, que dá a certeza de que poderá retornar sempre que quiser ou precisar, enquanto vida eu tiver.

Chorei por sentir que fechava-se ali um ciclo de minha vida, deixando para trás a sua maior parte. Dali para frente um novo ciclo iniciava-se, agora, para minha cria.

Chorei por tudo isso e pela enxurrada de sentimentos antagônicos, que paradoxalmente me assolaram: tristeza, alegria; alívio, apreensão; tranquilidade, preocupação.

Hoje meu único filho partiu de nossa casa. Partiu para uma nova casa, para uma nova vida, para um caminho que ainda desconhece.

Espero tê-lo preparado bem.

Não posso deixar de metaforizar a situação, como a dopai que segura o filho em sua primeira bicicleta e, assim que o pequeno começa a pedalar, ele solta, mas acompanha o andar ainda sem a firmeza e segurança necessárias.

Espero que meu filho não caia. Mas, que acima de tudo, tenha a certeza de que se cair, estarei atento, vigilante, para ajudá-lo a levantar e a curar suas feridas, depois, colocá-lo de volta no selim e encorajá-lo a continuar pedalando, sempre.