E A ÓPERA CONTINUA                   
 
 
Imagino ser  uma pessoa normal, e quando digo imagino, é porque tenho cá os meus momentos de querer jogar pedra na lua e quando isso acontece recorro a música, mas precisamente a ópera e neste momento em que o relógio marca  23:00 horas de uma sexta-feira,  ouço “As Bodas de Fígaro”, uma ópera  de Mozart, com libreto do italiano Lorenzo D Ponte  - e não o faço para me “castigar”, encontro paz no ato.   Fico ouvindo e acompanhando pelo libreto. Tem um trecho nesta ópera que diz: “Non so più cosa son  cosa faccio”, traduzido significa “Não sei o que sou nem o que faço”. Tal pensamento é uma constante em minha vida. Certa vez escrevi alguma coisa movida por este sentimento... e se o momento pede eu me repito:


Ah, se me fosse possível reduzir
toda a existência do meu pensamento
e de forma subliminar deixasse de atuar em mim
estímulos suficientes para que eu
não tomasse consciência do concreto
que me exaspera,
dando lugar ao abstrato
onde a representação figurativa
não transcende as aparências
exteriores da realidade.
Quero fugir dessa realidade.
Quero fugir de mim mesma.
Porque já não sei mais quem sou;
se sou real,
se existo.
Transcendo.
E me torno difícil de compreender
e sem ser filosoficamente profunda,
cabe-me tão somente a
adjetivação de um ser METAFÍSICO.


...O lado A do disco acabou, terei que virá-lo pora o lado B, a ópera continua, pois ainda persiste o desejo de jogar pedra na lua.

Zélia Maria Freire
Enviado por Zélia Maria Freire em 23/05/2011
Reeditado em 23/05/2011
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