Azulão
Azulão
Amigo leitor,hoje,pela manhã,sentando no local de costume,solicitei
aos meus amigos cósmicos inspiração para mais um poema.Qual não foi a frustração ,ao saber que,por motivo de manutenção,o Eterno,estaria indisponível !
Não escondi a tristeza e fiquei a pensar no que escrever.Lembrei,ao ver o piano da sala,abandonado pela minha filha que,por longos anos ,nos encantou,trazendo Bach,Debussy,entre outros e,em razão de ter que estudar medicina e se casar,deixou o pobre em silencio sepulcral.De quando em vez,ela senta e tenta executar alguma peça,mas,o danado,como que magoado,crava-lhe espinhos nos dedos.Bem,eu lembro um famoso time carioca que tenta e fica no meio do caminho,e ,de certa forma me identifiquei com este clube rival,na medida em que tentei algumas incursões na pintura e ,principalmente,na musica,onde aprendi a gemer uma flauta doce,um tanto doce e ,um tanto amarga,com gosto de laranja da terra.O instrumento,ou melhor,a próxima vítima,o acordeon!
Com pretexto de um almoço diferente,conduzi a família ao centro de tradições nordestinas Luiz Gonzaga em são Cristovão.Fui,prontamente,procurar o “Zé do Gato”,lendário sanfoneiro e comerciante.Em dez minutos,portava o meu indefeso acordeon de oito baixos.Ao percorrer a feira,só me imaginava interpretando o “moulin rouge”,La vie em rose!Imagine,leitor,cercado de forró por todos os lados,eu pensava em música francesa!
O apetite se aguçou com tantos estímulos visuais,olfativos que adentramos ao restaurante típico e lutamos contra um delicioso feijão de corda,aipim frito,carne de sol,acarajé...
Entretanto,o melhor estava para acontecer,pois,lembrando de meu neto,procurei presentea-lo com um cordel e padim CIÇO ajudou,pois,nada mais,nada menos,a nossa frente,o lendário Azulão que povoou minha infância com seus repentes no programa dominical dirigido por Rolando Boldrin.
Aquele personagem ,me parecia imortal,bafejado com o sopro divino e,com seu sorriso largo,sotaque nativo nordestino,nos deliciou por alguns momentos,quando falou de Patativa do Assare ,e as historias narradas em versos intermináveis.
Amigo leitor,humildemente,solicitei aquela figura transparente,onde se podia ver Luiz Gonzaga,Jacson do Pandeiro...os cangaceiros,as casinhas de barro,açum preto que fizesse um repente para minha filha Eliza.
Azulão desandou a recitar um verdadeiro,lindo poema na forma de cordel,onde teceu a personalidade,beleza de minha filha.Nós,ficamos,próximos as lagrimas e a vontade foi de beijar sua mão ou ajoelhar diante do mestre.
Meus amigos,como nossa cultura é injusta,como nossa educação é pobre
Que não convida estes agentes culturais para as salas de aula.Nada tenho contra o funk,mas,nossas crianças mereceriam,no mínimo,conhecer os azulões que voam baixo a espera que alguém ouça seus cantos.
Bem,amigo leitor,chegando em casa,coloquei as partituras e o pobre acordeon nordestino se martirizou ao executar o moulin rouge...