VIAGENS
__ Não.
Foi apenas o que ela ouviu dele. Havia chegado tarde depois de uma viagem. Ela chorou apenas. Foi-se rua abaixo seguindo seu destino de mulher que perde o marido para outra. Nesta vida as perdas são inevitáveis, e os caminhos de volta a serem refeitos também. Estela seguia seu caminho à busca de uma resposta que não existe em lugar algum. A única carícia que recebia era a do vento suave daquele fim de noite em que ela chegou e pensou ainda em recuperar seu grande amor.
Amores são inconstantes. Vem e se vão como ondas do mar que batem, ora belíssimas, ora raivosas e destruidoras. Às vezes temos que nos afastar e observar de longe, que em meio à imensidão linda do mar, infinita aos olhos, ondas se formam a todo o tempo, frágeis de vez em quando ou agressivas em boa parte das vezes.
Estela deixou Mário na casa em que moraram juntos por vários anos. Hoje tem outra pessoa lá dentro. Da casa e de seu coração. Mário cansou das viagens de Estela e da sua indiferença. Aprendeu com ela a dizer “não”.
Nesta vida tão passageira, só depois de muitas “viagens” damo-nos conta de que muitas são mesmo sem volta. O regressar é uma arte e uma habilidade. Voltar ao aconchego é saber superar pressões, ter a paciência da maturidade e a ousadia da juventude. Bem dosados.
Estela continua seu caminho, desce a rua e encontra-se com seu passado. Diante da praça em que se encontravam quando jovens, lembra-se dos beijos roubados naquele banco debaixo da árvore, que impede a luz e preserva o escuro amado dos amantes, ela se senta e chora. Agora só.