A LIÇÃO DAS PLANTAS
Somente percebi que fazia muito calor depois que vi o passageiro do lado passar a mão pela testa suada. Estava tão impregnado em meus pensamentos que havia me tornado imune à alta temperatura deste início de primavera.
Não faz dez dias que eu passava por essa mesma estrada dentro de um outro ônibus e observava as plantas que estavam em suas margens. Fiquei quase todo o tempo observando a sequidão das plantas neste início de primavera precedido de um inverno rigoroso, que neste ano de 2007 foi mais seco que o de costume. A vegetação estava completamente seca, sendo que as rasteiras estavam queimadas, praticamente em cinzas, nas margens dos mais de cento e cinqüenta quilômetros percorridos. Estava já fazendo o caminho de volta. Não é que havia chovido muito nestes poucos dias, mas havia chovido um pouco. As plantas de dez dias atrás estavam lá, nos mesmos lugares que as observei anteriormente. Mas, não eram mais as mesmas. Estavam novas, como se tivessem acabado de nascer.
Foi aí que tomei conta. Uma simples chuva foi suficiente para que elas fizessem brotar suas folhas. Estavam de um verde que nunca havia observado, de uma vivacidade espetacular, de um brilho que só aparecem nas plantas novas. Renovadas. Refeitas. Desfizeram o horror da sequidão e até mesmo as tentativas de morte por parte do fogo que tentou em vão destruir tanta beleza. Bastou um pouco de chuva. Era a esperança guardada dentro das plantas que tornou possível sua ressurreição. E fiquei a admirar todo aquele caminho tão longo, aquele caminho tão verde, tão vivo, tão diferente daquele de alguns dias atrás. Como a natureza é forte e capaz de superar seus limites e tantas intempéries?
Quem dera dentro de mim a força ressuscitadora das plantas. Neste momento eu a queria ter. Sinto como se um fogo tivesse perspassado por todo o meu corpo e atingido minh’alma. Lá dentro está ainda fraca a chama da vida. Ou talvez não tenha chovido o bastante. Ou talvez eu não tenha permitido que a chuva penetrasse as raízes que alimentam a esperança. Creio que ela existe ainda dentro de mim. São secas assustadoras. São secas acompanhadas de queimadas, como as dessas essas plantas que vejo da janela do ônibus também sofreram.
Não quero crer que seja morte. Quero crer que ainda há possibilidades. Penso nas plantas e penso em mim. Penso no verde que renasce e penso nas cinzas que estão aqui dentro. O verde traz a esperança. A ressurreição é maior do que a morte. Quero crer que dentro de mim o verde vai brotar assim que a chuva chegar nas raízes. Olho agora para o céu e vejo nuvens carregadas. Parece que vai chover mais. O vento da janela traz um frescor diferente neste caminho de volta. Um frescor de alívio, suave, um frescor de esperança. Parece que em mim também há nuvens de chuva. Que sejam abundantes, que sejam revigorantes, que sejam ressuscitadoras. Há uma grande seca a combater, há cinzas de uma queimada que ainda fumegam, mas que também já sufocaram as chamas. Já não ardem tanto. Mas ainda ardem. Ardem também de espera da chuva.