Meus Passos
Em cada esquina que passo, conto uma história. Pode parecer exagero, mas juro que é verdade. Aí eu olho pras pessoas e percebo que nem todas, ou melhor, quase ninguém tem tanto a contar quanto eu.
O som dos carros passando me faz ver o quanto as coisas mudaram, o quanto eu posso mudar. O som dos passos das pessoas me faz ver que tenho caminhos a seguir, a escolher. O som de minha respiração me faz acreditar que existem pessoas vindo ao mundo, e deixando-o.
Vejo poças na rua e isso me faz ver que há pessoas se afundando, deixando de acreditar em si mesmas, deixando de sonhar. Vejo posters de cantores e de filmes, pregados em frente à locadora, e me fazem acreditar em meus sonhos. Eles alcançaram, porque eu não? Vejo duas pessoas ali, brigando. Fazem-me ver tão nitidamente como todos somos diferentes, e iguais ao mesmo tempo, porque querendo ou não, sempre achamos que algo que seguimos está certo, mesmo que você veja que está errado, se te faz bem, acaba se tornando certo. E aí quem vai nos dizer o que é o certo ou o errado, já que todos somos humanos, todos somos iguais? Juro que minha vontade era parar, e ajudar as duas pessoas, porém, não o fiz. Observar as pessoas é muito interessante.
Continuo andando e sabe, ainda tenho muito a contar. Às vezes, confesso que não há ninguém para me ouvir, e quem dirá que sou louco se contar para o vento? Ele vai onde não podemos imaginar, e quem sabe numa dessas, leve minhas histórias para alguém? E quem dirá que sou louco por aproveitar tudo o que vejo, escuto ou sinto? Já que o louco na história é quem deixa tudo passar, pelo vão dos dedos, sem aproveitar nada.
Acabo de passar em outra esquina e vejo que esbarrei minha mão na parede, um pedaço de minha unha ficou para trás. Nossa como é interessante ver que em cada lugar que passamos, mesmo sem perceber, deixamos rastros. Deixamos lembranças boas ou ruins, depende do estado de nossas unhas.
Estava meio anuviado, atônito com a unha que deixei para trás e sem perceber pisei no pé de uma moça. Logo virei para frente e pedi perdão. Fora possível perceber ainda que ela soltara um retorno positivo com os lábios mas não com sua expressão, seu coração. E aí posso perceber então que muitas vezes não perdoamos o próximo quando achamos que sim, fazemos julgamentos ou até comentamos o tal erro com alguém próximo.
É engraçado ver que coisas tão simples nos explicam tanta coisa.
E agora me deparo com o fim de todas as ruas, e penso que cheguei ao fim desse caminho.
Vi que o importante não é a escolha do caminho e sim o grau de sua persistência, qual seu limite para chegar onde quer. Porque na verdade quem somos nós para dizer qual o caminho certo ou errado?
E peço para que não sejamos perfeitos a ponto de não errar o caminho ou não tropeçar em tal, porque a humanidade tem que ter algo a aprender. E quando chegarmos ao fim desse caminho, machucados, tenhamos forças para seguir em outro.
E percebo que ao chegar ao fim, não estou no final. Meus olhos não viam, mas de repente, passou a ver que existia outra rua, outro caminho. E me fez ver que eu não havia chegado ao final, e que ainda tinha coisas a fazer, histórias a contar.
O que deixo aqui é uma simples pergunta. Será que quando chegamos ao fim, estamos mesmo no final?
Acho que não.