NEM SEMPRE IMPORTA O QUE ESTÁ ERRADO (A cada bela impressão que causamos, conquistamos um inimigo. Para ser popular é indispensável ser medíocre. Oscar Wilde)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Tenho uma excelente aluna, no 8º ano, aliás em todas as salas sempre temos os destaques. Observando a rivalidade de todos da classe, e visto que eles recusam a se suportarem, resolvi pela seguinte estratégia, canalizar essa tendência para fazê-los crescer nos conhecimentos, ensinados ali: fiz desta aluna dedicada o modelo padrão de aluno àquela classe. Comecei elogiá-la frequentemente – minha aluna excelente – e fazer comparações, com pessoas de sucesso, cada vez que ela se superava, e expondo os trabalhos dela. Minha esperança era sobre os péssimos, que não são todos, mas é a maioria, diga-se de passagem, para que desejassem ser semelhantes e merecessem meus elogios também. Mas, por um lado, eu fui recebido como o Satanás, acusaram-me de menosprezador dos demais. A intolerância deles me afetou.

Colégio Adventista é condenado a indenizar aluna em R$ 12 mil por prática de bulliyng. Na ação, a autora afirma que sempre foi aluna destaque na escola por seu empenho e resultados, elogiada pelos professores, mas acabou se tornando vítimas de ofensas verbais por parte dos colegas, sendo chamada de “CDF”, “nerd”, “barata de biblioteca” e “filha de ladrão”. (por Cláudia Cardozo).{https://www.bahianoticias.com.br/justica/noticia/58892-colegio-adventista-e-condenado-a-indenizar-aluna-em-r-12-mil-por-pratica-de-bulliyng.html}

As meninas, especialmente, até desejavam o lugar ocupado por aquela “estrela expoente”, tendo em mente os elogios do professor, mas isso requeria esforços e boa vontade, o que a maioria do alunado de hoje jamais quer exercer. Então, com habilidade, fermentaram uns aos outros (quando o objetivo é comum, os inimigos se unem), os mais atrevidos, e comunicaram a seus pais; uma mãe representante veio denunciar-me à coordenação, falou sobre o meu comportamento prejudicial à filha dela a qual nunca desejava ser semelhante àquela aluna exemplar, apenas não queria ser discriminada. Na conversa, percebi que devia parar de elogiar minha aluna dedicada para os demais, de forma alguma, se sentissem humilhados. Ou devia elogia a filha dela, sem mérito algum, em nome da "paz"? Tampouco sei bem o que ela reivindicava, mas uma coisa ficou claro, eu era o problema ali, e aquela mãe queria me desmascarar a qualquer custo. Hoje, quando uma mãe deseja falar com um professor há sempre um dissabor indicando problemas (nesse caso, foi muito banal). Estou traumatizado!

Por outro lado, os bons pais dos bons alunos quase sempre não procuram os professores de seus filhos atrás de prestigiá-los, de incentivá-los, visto que assim, os mestres precisam continuar elogiando os merecedores. Vivemos em um mundo onde os bons são discriminados ao invés de serem seguidos. Tenho assistido, nas minhas classes, à pressão que os pobres de objetivo fazem para derrubar os elevados, chamam-nos de “puxa-saco”, "nerd" e também sou desrespeitado por voltar os meus elogios a quem merece.

Acho que elogiar os benfeitores, nunca faz mal a ninguém, agora elogiar a quem nem merece é tal e qual dar esmola para o bêbado beber mais de sua pinga. Talvez, os maus alunos estão nesta situação porque não foram avisados e, por serem maioria, tomam esse comportamento como regra.

Por isso, a escola não sabe resolver os problemas atribuídos a ela: Uma aluna vulgar (do sexto ano) fez um vídeo dançando seminua, em sua casa, e, trouxe-o para a escola, os colegas começaram a mostrar para outros. Tive recentemente o desconforto de assistir a uma desavença dessas! Em meios xingamentos e desrespeitos, ela queria impedir as gargalhadas dos amigos, envolveu a coordenadora de disciplina que ficou até tarde, tentando achar culpados, um problema que não é da escola, pois é proibido o uso de celular nas dependências escolares, e, constantemente, o trabalho do professor, é confundido com separador de briga de alunos marginais na escola. O trabalho acadêmico é ensinar eficientemente os conteúdos do currículo, e se detectar o desvio moral, comunicar aos pais. No caso citado, bagunçou a minha aula, era tudo que queriam!

Enfim, os professores sempre querem se dar bem, também, por isso reduzem seu nível e o da sua aula a fim de agradar “gregos e troianos”, mesmo com o prejuízo dos bons alunos desperdiçadores de seu próprio tempo “amassando barro”, ou seja, aprendendo o que já sabem. Aquela aluna "nerd" de cabelos longos, da minha sala, inteligente, atualizada, competitiva, priorizadora de um desafio intelectual, já fala de sair da escola por perseguição dos colegas. Como ficaremos na escuridão da educação pública sem os luzeiros?

Eu imploro aos bons pais dos excelentes alunos venham à escola, mesmo sem serem convidados, zelar pela qualidade da aula de seu filho, ajudando, e encorajem os professores, assim como, na mesma frequência, os maus pais dos maus alunos aparecem para nos condenar, humilhar e desestimular. Até quando o Mal sobrepujará o Bem? É como diz a sabedoria popular: “Chega-te aos bons, serás um deles, chega-te aos maus, serás pior do que eles.”